Remexendo na bolsa

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Lembro que era uma coisa assim, bonita. Sei que uso muito a palavra coisa e mais ainda a palavra bonita. É que a vida sempre foi bonita, mesmo quando feia, deve ser porque gosto muito dela. Sei que lembro muito do que já foi e penso demais no que nem chegou a ser. Entenda que pra mim as coisas sempre são, mesmo que só sejam aqui na minha cachola. Não precisa muito pra ser. Já pra ter você tem que batalhar muito. As pessoas só querem ter, ter, ter. Eu não. Já tenho, e olha que tenho tudo. Mesmo assim, humana cabeçuda, sempre quero mais. Lembro que era uma coisa assim, bonita. Bonita de ver, ser, ter. Uso muito a palavra coisa e bonita e todas mais que cruzarem o meu caminho e mesmo que nem cruzem vou em algum canto e pego elas pela mão, se tem algo que me encanta na vida são as palavras. Minhas bolsas, grandes, médias, pequenas, estão cheias delas. Tem bolsa que só cabe um grampo, um batom e olhe lá, mas vou contar um segredo: palavras não ocupam espaço, se encaixam em qualquer cantinho. O que aperta é aquilo tudo que fica por dizer, por escrever, por abraçar, beijar, por sonhar.


Não tenho vergonha de sentir medo, as coisas bonitas também afligem. Acho que o importante é admitir, dar uma trégua pra si mesmo e aceitar o medo do medo. Quem nunca sentiu medo na vida que pare de ler este texto agora. Lembro que eu tinha saudade, nem sabia qual era o tamanho, só sabia que aquilo tinha nome, era saudade. Hoje talvez eu encontre no meio de um caminho torto a explicação, a saudade era minha, de mim, por isso o medo, por isso o pé atrás, por isso o receio de ver. Tenho medo de ver algumas coisas, posso querer fechar o olho ou colocar um travesseiro na cara e, de repente, cadê? Nada em mãos, a não ser a vida. Ela, que é bonita, que vale ouro, que vale tudo.


Lembro que diziam muito sobre o assunto. Vai embora rápido, não leva ao pé da letra, ai, ai, pedir isso logo pra mim? Letra é algo muito sério, eu levo tudo muito ao pé de tudo, apesar de viver rindo de mim, dos outros e pra mim eu sou uma pessoa muito séria. Lembro que eu não gostava do que diziam. Ainda bem, o que importa é o que vai dentro. E o que vai dentro sempre tive que dizer porque não consigo ficar apertada, nem com nó ou com o coração todo riscado, por isso passo tudo a limpo. Se na vida existe o fale agora ou cale-se para sempre, tudo bem, meu bem, a minha bolsa de hoje é pequena, mas as palavras que saem de lá neste minuto ocupam a minha vida toda: eu te amo. Só enquanto eu viver (não só nesta vida, mas em todas que me forem permitidas).
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