Outra vez

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(Nem sempre a gente sabe como, mas o que vale é seguir em frente.)


Tem uma frase do Caio Fernando Abreu que diz mais ou menos assim "não se preocupe, não vou tomar nenhuma medida drástica a não ser continuar, tem coisa mais autodestrutiva do que insistir sem fé nenhuma? Ah, passa devagar a tua mão na minha cabeça, toca meu coração com teus dedos frios, eu tive tanto amor um dia." E a gente pára, respira, suspira, quase se atira. E a gente pensa se vale mesmo a pena ir adiante. E a gente não sabe e perde o rumo. E a gente. E.


Tudo sempre começa e termina, mas ingenuamente achamos que todo começo é eterno e que pra todo o fim dá-se um jeito. Alguém vai embora e o telefone não mais toca. Alguém chega e você acha que aquela presença será constante. Ei, não é assim, as pessoas chegam e vão, podem sair à francesa, podem entrar sem a menor cerimônia. Mas escuta bem o que eu digo: o momento de fazer é hoje. A gente precisa cuidar do planeta, poupe água e energia elétrica, o que você deixará para os seus filhos? Olha, eu nem sei se vou ter filho um dia, nem sei se hoje tô acreditando em reencarnação, por isso vou deixar o mundo mais bonito, mais seguro, mais tudo pra mim, assim, bem egoísta. Esse papo de a gente colhe o que planta e cuidado com o que deseja eu não sei se acredito. Pelo menos hoje.


Ando descrente, por mais que faça força pra acreditar em. Apesar disso acredito e se não tenho motivos invento. Não deu certo, tudo bem, recolhe o que sobrou, junta os brinquedos e faz tudo de novo. Falar é fácil, eu bem sei. Fazer é complicado, sei também. Mas escuta, escuta, escuta. Alguma voz no fundinho da gente sempre fala baixo o que precisamos ouvir: é preciso seguir, ainda que devagar, mesmo que o caminho seja cheio de tropeços, ainda que muitas quedas cheguem de mansinho, mesmo que o tempo esteja feio e escuro lá fora. Nem sempre conseguimos escutar essa voz, é preciso muito silêncio, é necessário estar distraído, é urgente que saibamos quem somos. Não pense que é fácil lidar e saber quem-eu-sou. Dói, um pouco dói. Mas a dor vai se transformando em conhecimento-interior-profundo-adaptado-reeducado-inventei-tudo-neste-espaço-de-segundo, pode apostar.


E tem a sensação de perda de. Como pode um amigo próximo, um amor quente, um gosto bom ir embora? Fica só a lembrança e o cheiro a queimado, de coisa que passou do ponto há horas. Acho triste. Me entristece de uma forma tão grande pensar que as coisas um dia podem deixar de ser. Então eu penso que a qualquer momento eu também posso deixar de ver. Eu, você, o mundo. E um sorriso surge outra vez pra lembrar que o que importa é o hoje, o agora, o neste exato momento. Porque amanhã eu nem sei.
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