De vez em quando me pergunto se vivo para inventar ou se invento sem sentir. Eu definitivamente invento muita moda. O problema é que nem tudo pode ser mostrado nas passarelas, certas blusinhas têm que ficar brincando de esconde-esconde. Descobri que estou fora de moda, preciso me atualizar: é urgente.
Remexi em textos antigos. Reli, reescrevi, refiz, bateu um desespero. É incrível como tudo o que ontem era novidade hoje se transforma em uma folha amarelada e com traças. Me senti ligeiramente triste por dar adeus a pequenos capítulos do que, um dia, foi importante para mim. É como se pedaços tivessem sido arrancados do meu corpo. Explico: eu tinha um livro fechado, reunião de crônicas que escrevi. Tive que fazer uma divisão, mandar algumas voltarem outro dia, despachar outras para bem longe, me desfazer de uma porção delas, trocar uns jeitos, mudar uns estilos.
Escrever é importante, faz bem para a minha vida. Talvez eu tenha me descoberto no dia em que comecei a escrever. Acredite: faz muito, muito tempo. Não gosto de mexer em textos já fechados, pois eles contam uma história - não importa se é inventada, roubada ou presenciada. Um conjunto de textos conta, por óbvio, um conjunto de histórias. A fase vivida interfere muito no que chega até o papel. São momentos e emoções que definem a personalidade do dia: hoje estou sensível, amanhã estarei nervosa, depois de amanhã estarei com cara de nada. O humor interfere na forma de escrever, pode apostar. Mas não acredito naquilo que dizem ser inspiração. Acho que é tudo disciplina, vontade, suor, bunda sentada. Inspiração é para os tolos, para quem finge escrever. "Hoje estou inspirada, vou contar para o mundo. Hoje vou mandar recados, hoje isso, hoje aquilo".
Tem gente que tem blog para mandar recado, tem o destinatário certo, pô, então manda um e-mail, filhinho. Mas cada um faz o que quer com a sua vida, mesmo porque um dia já fui bem fora de moda e usei o blog para mandar recados. Quando a gente está sofrendo reajustes sentimentais, inevitavelmente, passa isso para as linhas. Quer saber o bom de evoluir? Você aprende a, mesmo caindo aos pedaços, vestir o melhor olhar. Acredite em mim mais uma vez: o disfarce é pura evolução.