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Pensei em coisas. Por favor, não faça essa cara de tédio, sei que não é nada excepcional eu ter pensado em coisas. Não ache, também, que pra mim é simples. Vezenquando tenho cólicas mentais, não é fácil viver com um parque de diversões dentro da cabeça. A parte do algodão doce é até gostosinha e ficar lá no alto da roda gigante, abraçadinho com quem você gosta, vendo o céu e quase fazendo cafuné nas estrelas não é nada ruim. Tão perto, mas tão perto que dá pra dar beijinho de esquimó em cada nuvem. Fora a sensação de liberdade e aquele vento que traz um carimbo na testa: paz. Mas parque de diversões não é só isso. Tem a montanha-russa, que assusta. Aquele barco viking indo e voltando, que enjoa. Tem as xícaras giratórias, que embaralham nossos neurônios como se fossem cartas de pôquer. Tem o trem fantasma, que continua assustando. Fantasmas, entenda, sempre existirão. Não importa o quão velho estejamos.


Sou um pouco intrigada com pessoas. Não sei, o tempo tem passado rápido por mim e quanto mais ele passa, mais concordo com os pensamentos de Nietzsche a respeito da solidão. Ela, de fato, é o caminho que nos conduz para nós mesmos. E isso é muito, muito complexo e impossível de resumir em poucas linhas. Acredito na força da solidão, ela é cheia de poderes. Grande parte das pessoas que conheço catalogam a solidão: solidão é estar só, sem ninguém. Por isso elas fogem, embarcam em relacionamentos sem sentido e/ou futuro, jantam assistindo televisão, vivem ao telefone, tudo para não ouvir as vozes internas e o silêncio tomando conta do ambiente. Pra mim a solidão vai além, não é nada disso: você pode estar só e, ao mesmo tempo, acompanhado de muita gente. E, pode acreditar, você pode optar pela solidão sempre que desejar. As pessoas precisam desesperadamente crer. Em Deus, nelas mesmas, em um sentimento inabalável. Quando isso não acontece sentem-se vazias e infelizes. Ninguém disse que para ser feliz precisa ser bem sucedido, bem casado, bem esticado, bem penteado. Você pode ser feliz fazendo o que gosta e talvez ganhando menos do que a sua mãe esperava, pode estar muito bem sozinho, sem ninguém, ao contrário dos seus amigos noivos e de enlace matrimonial agendado, pode conviver numa boa com os pés de galinha que dia após dia aparecem para uma visita de médico, pode achar bacana o visual descabelado. Agora eu pergunto: e daí? O que os outros têm a ver com a sua vida?


A cada dia que passa acho as coisas mais difíceis. A tecnologia avança, os divórcios avançam, o aquecimento global avança, a queda de cabelo avança e, ainda bem, a medicina avança. É bom que pra tanto avanço tenha algo bom: a cura de algumas doenças. É bom que tanto Avanço previne a asa e ainda faz com que elas avancem. Ok, piadinha fora de hora. Fico preocupada com tanta evolução, entende? Por que tantas coisas evoluem e outras tantas ficam sem respostas? Não era tudo mais fácil lá atrás, com aqueles vestidos repolhudos, corpetes, espartilhos, guarda-chuvas rendados e chapéus elegantes? Caneta de pena, carruagens, cartas, blá blá blá? Não sei, ando meio saudosa de coisas que não conheci. Talvez seja a proximidade dos trinta. Talvez sejam meus fantasmas arrastando correntes. Ou, ainda, talvez sejam reflexos de coisas que custei a engolir. Porque nem tudo desce numa boa, às vezes a gente tem que dar um golaço de água pra fazer passar pela garganta. A sensação que fica é arranhão. Ele passa em poucos minutos. Pior é quando fica aquele peso no estômago e na vida. E eu ando assim. Não sei se consigo carregar algumas coisas dentro de mim. Ando no modo mudo, sem vontade de falar, não quero colocar pra fora, nem sentar na poltrona de um psicanalista. Bom mesmo seria se tudo se resolvesse assim, num plim. Como não resolve o negócio é dormir e ver se passa. Se não passar o jeito é rir, de qualquer coisa, por mais bobalhona que seja. E seguir em frente, porque alguns dias devem ser assim mesmo.


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