Sabedoria materna

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Ela tinha quinze anos quando escolheu o meu nome. Leu um livro, se encantou pela personagem e decidiu: minha filha vai se chamar Clarissa. Mal tinha começado um relacionamento, nem sabia ao certo se aquele namorado seria o pai da Clarissa. Mas de alguma maneira eu era um plano, uma escolha, um sonho. Então ela casou e teve o primeiro filho. Era um menino e ela não desistiu de mim, muito menos me esqueceu. Dois anos depois eu apareci dentro dela. Foi uma gravidez difícil, que exigiu repouso e cuidados. Quando, finalmente, chegou a minha hora de nascer, houve uma revolta: Clarissa não queria sair da barriga da mãe. O médico disse que eu teria que nascer até o dia três de outubro senão teriam que partir para uma cesariana. Minha mãe sempre teve medo de cirurgias, por isso deve ter tido uma conversa ao pé da barriga comigo, me explicando o problema. Nasci no meio da tarde de uma sexta-feira chuvosa.  

Cresci ouvindo que a minha mãe pecava por excesso e não por omissão. Deve ser por isso que ela nunca me deixou desistir. Fiz escolhas, errei alguns caminhos, mas aprendi a não desistir dos meus sonhos. Pode parecer piegas, mas nunca desisti pelas coisas que aprendi com ela. Toda a vez que eu me achava ruim em alguma coisa ela me mostrava um lado bom. Acho que é por isso que vejo o lado bom das coisas e das pessoas, sempre. 

Só mesmo uma mãe para abrir mão da própria vida pelos filhos. Elas se sacrificam, de vez em quando esquecem delas mesmas. Antes de serem mães e esposas, são mulheres. Pessoas que têm os próprios desejos, falhas; humanos que têm medo do questionamento, da conversa profunda com seus eus. Mães também se perdem, não é vergonha alguma. E é muito bonito quando uma mãe diz que não sabe o que fazer. Elas não precisam saber tudo. 

Minha vida é cheia de excessos, aprendi com minha mãe. É melhor a gente mostrar a cara do que esconder o rosto. Sei disso muito bem mas, como também sou humana, de vez em quando cubro a cabeça com o edredon. A minha mãe é maior incentivadora que alguém pode ter, independente do que o resto do mundo fala. Ela sempre esteve ao meu lado, apoiando, ouvindo, lendo meus textos, dando conselhos. Foi a primeira leitora que eu tive e é honesta ao dizer que não-gostei-daquele-texto-minha-filha. Também tenho excesso de medos. Vezenquando penso em desistir, não, isso não é pra mim, não sei escrever, não aguento mais entrar em contato com editoras, não sei fazer um anúncio que preste, tô cansada, meu cabelo é feio, vou comprar uma peruca e virar empacotadora do supermercado mais próximo. Ela, com aquele jeito forte de ser, diz que tô fazendo muito drama, que é pra parar com isso e seguir em frente. E eu sigo. Às vezes a gente desanima, é natural. Mas como as mães são incansáveis dizem que é preciso continuar. E não importa o que a gente faça, elas sempre continuam ao nosso lado. 

Tive excessos de amores errados. A gente se engana muito com as definições românticas. Minha mãe sempre disse que eu saberia quando a pessoa chegasse. "Não, você nunca amou, isso tudo não é amor...". Tive muitos projetos amorosos, minha mãe um dia fez uma lista de todos os grandes amores da minha vida. Um dia nós duas lemos e rimos muito. Foi um festival de nomes e enganos. Mas ela estava certa. Quando chega a gente sabe. Não tem como explicar o amor. Já me perguntaram como eu sei que é ele e que certeza é essa. Não tenho nenhuma nota fiscal para comprovar, a certeza é quando você se enxerga nos olhos do outro, se vê através daqueles olhos e pensa que sua vida agora não é mais incompleta. Você está segura, não precisa ter medo. Minha mãe disse que eu saberia e ela tinha razão. Nunca duvide de uma mãe, muito menos da minha.



PS. Desejo um feliz dia para a mãe mais amada do mundo. Já devo ter colocado essa foto aqui no blog, acho ela linda e retrata um momento feliz.
PS². Um beijo especial para a minha mãe, minhas avós, tias e sogra.
PS³. Muitos abraços bons para todas as mamães. 

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