Duelo

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Foto: Lúcia Letra, http://olhares.aeiou.pt/

(Porque, querendo ou não, a gente sempre espera algo. Mesmo que não saiba. Mesmo sem porquês.)

Me pergunto o que vem antes, ego ou sentimento? O sentimento chega por uma reunião de motivos. O ego acompanha a gente desde sempre. Ele pode evoluir, regredir, ceder o lugar, chamar a atenção. Muitas razões, um só ego. Se ele não existisse será que os sentimentos seriam mais verdadeiros? Não sei, me pergunto até que ponto a gente deixa o orgulho de lado e age de mente e peito abertos.

Um pouco de orgulho faz bem, nós sabemos. O problema é errar a medida, colocar uma dose a mais. A bebedeira orgulhística faz um mal danado. Eu tenho uma teoria: é no orgulho que nasce a expectativa. E é justamente a expectativa não realizada que fere o nosso orgulho. Entenda, a gente sempre espera algo. Quer. Planeja. Se alguém não compartilha do nosso plano, babaus, orgulho lateja. É tão mais fácil desamarrar os cadarços, deixar a vida respirar. Pena que nem sempre conseguimos.

Vejo pessoas desiludidas. Fiz tudo para ela e não recebi nada em troca. Fui tudo para ele e agora veja o que aconteceu. Me perdoem, para mim a regra é transparente: quem gosta trata bem. Ponto final, sem vírgulas, sem "se", sem "mas", sem nada. Se o outro te prometeu o mundo, paciência. Se você acreditou, desculpe, mas você foi bobo. As palavras se perdem no ar. Às vezes elas nem chegam ao nosso ouvido, observe na prática: alguém grita o seu nome do outro lado da rua. Você pode ouvir ou não, certo? O mesmo ocorrre com jurinhas de amor. Acredite sentindo. Porque a gente sabe quando o amor não está ali. Você pode estar mergulhado numa paixão, mas você sente quando o olhar brilha de verdade. Quem quer ficar junto com você, fica. Não tem outra alternativa. Não existe ex-mulher, filho, trabalho, distância. Não existe tenho-medo-de-me-envolver. Não há espaço para não-quero-relacionamento-sério-agora.

Às vezes dá certo, outras vezes não. É a vida. Não é você, não é carma nem sina, não é coisa feita. Simplesmente às vezes existem pessoas sonhadoras demais. Eu fui uma. Na verdade fui vítima de mim mesma, dos meus sonhos, do meu orgulho e da minha expectativa. Quero dividir isso com você. Agora. Eu queria muito que desse certo. Os olhos dele cambaleavam, a voz dizia que a gente teria uma vida linda. Eu apostei na voz e desviei o olhar. Por perder o caminho de vista eu derrapei e perdi o controle do meu próprio veículo. Culpa de quem? Minha, a infratora imprudente. Não adianta culpar o mundo.

A gente sabe quando acabou. E principalmente quando nem começou. De vez em quando só começa dentro de cada um. E nós, seres delirantes debilóides desesperados por amor e verdades inventadas, queremos que aquilo aconteça. O orgulho puxa o sentimento pelo braço e diz vem, chega mais, eu quero tudo e quero agora, rápido, não demora. Mas a gente sempre sabe quando algo quebra, rompe, desmorona. E nessa hora é o grande momento, é preciso cheirar a realidade. Entender que a vida não é fantasia. Porque sempre existirão desculpas. A gente desculpa tudo, todos, a gente se desculpa. Tudo pra não ver, pra tentar tapear a dor. Mas dói mais, acredite. Dói muito mais fingir que algo existe.

Vá embora. Apenas vá. Não olhe para trás, não busque o pó, não pegue migalhas. Vá. Não deixe que a sua lembrança fotografe aquele momento. Caminhe olhando para frente, mesmo que num primeiro momento você só consiga olhar para o chão. Vezenquando é preciso deixar o ego e o sentimento de lado. Mesmo porque é impossível amar sozinho. Ou amar uma ilusão. Não olhe. Não dê uma chance para que o seu coração tenha vontade de ficar.

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