Hein?

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Pensei que a gente tinha certeza. Agora, nessa altura do campeonato, se é que estamos jogando alguma coisa, você aparece com novidades. Já tive alguns medos, de tudo. Do novo, pois o que é novo assusta muito. Não entendi as suas novidades. Você sabe que eu junto coisas. Minha cabeça é um mar cheio de ondas, umas vêm e me derrubam, outras vão e me levam. Vezenquando fica tudo calmo, sereno, é aí que tenho receio. Nada nunca é tranquilo pra mim. Acho que acostumei com isso: um temporal vive aqui dentro. Talvez seja disso que você tem medo, pois tem gente que não gosta de chuva. Quando tem muito raio e trovão, confesso, me escondo. Desde pequena fujo pro lado da minha mãe ou do meu pai, sei lá, me sinto segura. Lá posso ser eu mesma, fazer cara de criança, segurar forte a mão deles, deixar de lado a roupa de adulta. Não entendo por qual razão dizem que só as crianças podem ter medo, acho injusto. E, se por acaso, você se mostra fraco, ah, que horror, que infantil, que coisa de criança. Pois eu digo que adoro ser criança. Se o mundo fosse criança tudo seria feito com mais verdade.
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Fiquei triste. Eu explicava para você sobre essa altura do campeonato. Se é que nós estamos jogando alguma coisa, né? Não jogo, você sabe. Mas dizem os que adoram frases de efeito que "a vida é um eterno jogo". Não queria ser uma peça. E não queria te fazer outra pecinha. Vamos combinar que não existe jogo? Me sinto mais confortável assim. Fiquei triste. Achei que você tinha certezas no bolso da camisa. Vi que não, coloquei a mão na bolsa pra procurar alguma pra te emprestar e não encontrei. No lugar delas, gloss, caderninhos, lenços de papel, chaves, canetas, carteira, corretivo, óculos e mais um monte de cacarecos que carrego. Nem sinal de certezas. Se eu tivesse, quero dizer pra você, eu te dava. Não empresto nada, eu dou. Deve ser porque me dou, vivo me dando, acho que é por isso que sofro tanto com as coisas. Gostaria de me dar menos. Vou anotar isso pra, de repente, pedir de Natal. Se eu me comportar e for uma boa menina pode ser que o bom velhinho me dê o me-dar-menos de presente.
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Queria entender, eu juro. Queria não me doar tanto, não planejar demais. Sabe, eu menti pra você. Menti feio. E menti pra mim também, muito. Não deixei de planejar não. Não aderi ao estilo deixa-fluir-não-planeja-e-vive. Eu planejo, eu quero planejar, eu preciso saber que a certeza vai vir um dia. Desculpa decepcionar você. Mas eu planejo. Planejo alguns dias marcantes. Planejo dias comuns. E se você age de uma forma diferente dos planos, não se preocupe, sei lidar com os meus choques de realidade. Não quero que você seja perfeito e faça tudo certinho. Os meus planos não são certos, muito menos eu sou certa - isso você está careca de saber.
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Chorei porque pensei que tudo estivesse no seu lugar. Porque eu queria que você simplesmente soubesse. E quisesse. E, sim, também planejasse. Sem medo, entende? Porque não precisa ter medo de um sentimento bonito, único, simples. Aprendi com a minha mãe que a gente não precisa dividir. Nunca fui muito boa em divisões. Eu dou frases, beijos, risos, abraços, emoções. Por isso eu somo e, com sorte, multiplico. Pode ficar com essa minha certeza: não vim para dividir ou subtrair. Quero somar. Minha mãe sempre esteve certa: o amor vem pra somar. Você veio pra somar, pra aumentar. E vice-versa. Os nossos sonhos podem se abraçar, tudo fica bem. Meu sonho + seu sonho = nossa realização. É assim que a coisa funciona, não tem que abrir mão de uma coisa por minha causa. E vice-versa. Tudo que vale pra mim também vale pra você. A gente não precisa enfiar sonhos em sacos de lixo, eles só servem pra colocar garrafas de vinho vazias. Os sonhos a gente tira da cabeça, do peito, dá um jeito de fazê-los realidade. A pior burrice que uma pessoa pode fazer na vida é enterrar um sonho por causa de alguém. Ao invés disso, viva o sonho com esse alguém. Se a pessoa te ama, ela vai pra qualquer lugar, até pro quinto dos infernos.
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Sabe, acho que é isso. Deve ser por esse motivo que de vez em quando não entendo bem as coisas. É assim que eu penso, quando a gente ama as coisas são simples. Mesmo com defeitos, porque o amor não é feito só de cores bonitas. Na minha cabeça a gente planeja, tricota o futuro. Vai tricotando devagarinho, dia após dia, até fazer um futuro bem bonito. Depois usa, veste. Quando ficar pequeno, tricota de novo. E depois usa, veste. Saiu de moda? Novo tricô. E vai tirando fotos lindas pra colocar no álbum. Depois que o álbum ficar pronto, reveja, relembre e queira mais. É essa a função que ele tem. Pelo menos é o que eu acho.
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