Não tem preço

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Algumas pessoas valem o mundo. Com tudo, tudinho dentro. É que dentro do mundo tem um universo. Damos muitos nomes tais como sentimento, emoção, sensação, etc. A mania de nomear vem da estranheza e curiosidade humana em catalogar coisas. Tudo precisa ter nome e significado. Não entendo, basta sentir. Sentir, sentir e sentir. E quando o sentir estiver indo embora, sinta de novo. Infelizmente, para alguns o importante é batizar. Antes mesmo de uma coisa surgir, ploft, nome nela.
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Eu dizia que algumas pessoas valem o mundo. Falo de mim, do meu mundo, estranho mundo. Meu universo sem nome nem significado. Sou uma pessoa muito cheia de mim. Sinto que tenho muito não-dito, guardado, muito a ser colocado pra fora. Desde pequena me sinto assim, com o mundo no peito, com um universo nas mãos. Demorei pra entender o que fazer, como agir, de que maneira extravasar a enxurrada de eus. Nem sempre acerto, mas tento. Um mar de complexidade vive em mim, aprendo todos os dias a entender um pouco mais do meu próprio funcionamento. Chega uma hora, não me pergunte qual, em que você perde o medo. Não falo do medo de abrir os olhos pro mundo, falo do medo de abrir os olhos pra si mesmo. É difícil nos enxergar. É difícil me enxergar.
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O grande problema é a perfeição. Ainda que veladamente, é o que buscamos. Isso cria barreiras, impõe obstáculos que muitas vezes só fazem mal. É bom ter ambição, vontade, gana. Mas é preciso entender que muitas coisas que estão ali simplesmente ficarão ali. Não adianta chorar, fazer beicinho, cara feia e bater o pé. Entenda, eu digo isso pra mim todos os dias, certas coisas farão parte de mim e de você. Evoluir é essencial, mas não existe uma passagem secreta ou um trampolim que leve até a Dona Perfeição. Temos, teremos defeitos. E viverei, viveremos com eles. Ciente disso, sigo afirmando que algumas pessoas valem o mundo. Mesmo quando ele está encardido, alcoolizado, com dor de barriga e sem lavar as partes baixas há mais de uma semana.
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Penso assim: a vida é feita de gente boa e ruim. Alguns dias são bons e outros ruins. Existem sentimentos bons e ruins. Tudo é na base do bom e do ruim. O bem e o mal. A gente aprende isso desde cedo, tem o mocinho e o bandido. O ladrão e a polícia. E algumas pessoas valem o ruim, o estragado, o sem gosto. De vez em quando é pior não ter gosto de nada do que ter um gosto azedo. Algumas pessoas valem isso. Acho que esse é o ponto máximo do amor máximo. Não que ele precise ser medido ou explicado. O amor dispensa maiores definições. Ele se auto-explica (não sei se leva hífen). Só penso que quando a gente tem o coração cheio desse sentimento, tudo fica claro. E a gente não precisa ter medo de cruzar com alguém ruim no caminho. Elas nos fortalecem, ensinam. Algumas delas, inclusive, até valem o mundo (ainda que por um curto tempo). Quem nunca se decepcionou? Quem nunca pensou assim fulana-é-minha-melhor-amiga-beltrano-é-o-cara-dos-meus-sonhos? Nessa hora, eles valem o mundo. Depois, tudo muda, valem nada. O que importa é o momento em que a pessoa efetivamente valeu o seu mundo.
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Ouço gente amargurada dizendo que a fulana era uma cobra, não valia nada. Eu entendo, mágoa de amiga (o) arrasa a alma. Só que ela passa. A gente não pode se prender em rancores. É bom lembrar das partes boas, do que deu certo. Porque alguma coisa sempre dá certo, a gente sabe a hora exata em que está funcionando. É que nem um amor. A gente sabe quando morre, quando para de funcionar, quando o coração para de bater. Não queremos admitir, mas sabemos. No fundo sempre saberemos. Muitos amores deram certo na sua vida, não pense que eles foram ruins só porque tiveram fim. Deu certo naqueles sete meses em que vocês namoraram. Deu certo nos quinze anos em que foram casados. Deu certo até a hora em que parou de dar. E tomara, tomara mesmo, que naqueles meses e anos e minutos a pessoa tenha valido o seu mundo.
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PS.: Agradeço aos que valem o meu mundo. Gente louca de especial, leitores queridos que são incansáveis no carinho, nas palavras, no tom. Muito obrigada! Aproveito pra mandar um beijo pro Diego Muzitano, que me alegrou esses dias com um e-mail delicadíssimo. Diego, se cada pessoa no mundo tivesse 1/3 da tua delicadeza, sei lá, acho que seria mais simples viver. Um beijo pra cada um de vocês, que me escrevem, deixam recados queridos, são amorosos e mandam uma energia boa! Obrigada, de coração, gente.

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