Maria está no ar

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Todo mundo já ouviu a expressão tô-dando-uma-de-Maria-hoje. Ninguém deixa a Maria em paz, coitada! Não tive tempo de procurar pra dizer tim-tim-por-tim-tim os porquês mariazísticos, então desconsidere o fato - ou então investigue você e depois me conte, por gentileza. O que importa é que todo mundo fala, quando está na lida doméstica, que está dando-uma-de-Maria.


Maria é um nome comum, simples e bonito. Tem Maria Cecília, Maria Eugênia, Maria Luíza, Maria Madalena, Maria Claudia, Maria Cristina, Maria Sozinha. A Maria é tão famosa e chique que é internacional: Mary, Marie. A Maria ganhou até música do Santana. A Maria é mãe de Jesus. A Maria é uma bolacha. E quem já não aqueceu algo - ou alguém - em banho-maria? Maria, em hebraico, quer dizer Miriam. Sabe o que significa Miriam? Rebelião.


Nem precisa me contar o porquê da expressão, já liguei os fatos. Rebelião. Eu, quando resolvo encarnar a Maria, faço uma rebelião total. Primeiro eu coloco aquela roupitcha que a gente tem vergonha de ir até na padaria. Depois eu aproveito pra dar a faxinada geral enquanto o cabelo fica com algum creme - você sabe que mulheres fazem várias coisas ao mesmo tempo. E claro que toda boa limpeza tem um fundo musical escolhido com as unhas devidamente mal feitas. Sim, você entende, mulher nenhuma limpa coisa qualquer com as unhas em dia. Elas precisam estar quase pedindo me-faz-por-favor pra gente pegar na vassoura, pano, Ajax Fresh Lemon e Veja (sou viciada em Veja, minha gente!).


Estou me desocupando. De tudo. Comecei pelas gavetas, joguei fora papéis, anotações, agendas antigas. Vou dar uma limpada total nas cartas, só vou guardar coisas de pessoas que realmente são importantes. Tenho mania de juntar bilhetes e coisinhas que me escrevem. Mas não tenho lugar pra tantas coisas! Tudo fora. Amanhã vou arrumar os armários. Alguns CD´S eu já me desfiz. A ordem é limpar o ambiente, sem dó. Sinto uma pena absurda de deixar em outro plano (sem nada concreto que lembre, que mostre a coisa viva) algumas coisas. Descobri que tudo que vive, vive aqui dentro. Não preciso guardar o papel do estacionamento nem o ingresso do cinema.


Desocupar é a ordem. Desocupar, também, do meu coração. Cansa dar bola e se importar com gente que não está nem aí. O problema é que não mudo nunca: me ocupo de todo mundo. É por isso que sempre falta espaço aqui dentro, até mesmo pra mim. Ainda bem que o-dia-de-Maria tá funcionando com papéis, roupas e tudo mais. Um dia viro a-Maria-dos-sentimentos.
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