Até onde você vai?

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Choro é coisa íntima, é que nem beijo. Não beijo todo mundo, por isso não costumo chorar na frente de pessoas desconhecidas - ou não tão conhecidas assim. Mas esses dias eu chorei. Porque precisava, porque merecia, por pura e puta necessidade.
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A gente idealiza pessoas e coisas. Mania nossa. Coisa de gente que tem sangue nas veias e tum-tum no coração. Com o tempo, as pessoas aparecem. Por isso, nunca quis posar de princesa para o meu namorado. Vi, há algumas semanas, uma declaração da Juliana Paes dizendo que nunca deixava o maridão vê-la desarrumada. Penso o contrário: é na desarrumação que nós nos encontramos. A segunda vez que vi o meu namorado, acredite se quiser, eu estava de pijama, cabelo bagunçado e óculos. Tudo bem, era uma espécie de teste inconsciente - ou seria consciente? - no estilo você-quer-mesmo-tem-certeza? Você quer meu cabelo descabelado, meu pijama de sapinho furado, meu óculos que deixa com cara de nerd? Você quer minhas pantufas, olheiras, falta de brincos e maquiagem? Você quer? Porque o pelinho da perna cresce, o da virilha também. Porque a unha descasca e o rímel borra. Porque o lápis sai e o pó se desgasta. Porque o salto tira férias e o tênis é confortável. Porque eu gosto de pijamas debilóides e não sou uma Angel da Victoria's Secret. Porque eu também não sou nenhuma modelo, não tenho 1.80 e nem peso 50 quilos. Porque eu sou eu, não me idealize. Só me veja. E, se apesar disso, me amar, prometo dar todo o amor do mundo.
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Não vou negar que também tiro conclusões e construo castelinhos. Mas expectativas só fazem a areia desmoronar. Acredite: tudo desmorona, cedo ou tarde. O difícil é administrar os planos. Ter planos é fundamental, o erro é enxergar uma pessoa que não existe. Por isso gosto que me vejam como eu sou. Posso ser tudo, ter todos os defeitos do mundo. E tenho, são muitos. Mas não uso máscaras, não sou da turma da má índole. Caráter, para mim, é coisa séria. E, felizmente, por mais que você tente, não adianta passar chapinha ou corretivo. Uma hora a chuva cai, o cabelo encrespa e as marquinhas de espinha - e do tempo - dão as caras.
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Costumo dizer logo como eu funciono. Para evitar transtornos e eteceteras. Não gosto de injustiças, sou brava e estourada, mas também sei me calar. Principalmente quando você discute com alguém que distorce completamente uma situação. Se você for honesto, vai me ganhar. Se tentar trapacear, fique esperto. Sou bem rápida. E não tenho a menor vocação para trouxa. Depois que eu descubro com quem estou lidando, mudo. Sou legal com quem é legal comigo. Se você me tratar bem, será muito bem tratado. Se pisar na bola, o azar será seu. Não, não me vingo. Sou ingênua demais para arquitetar planos mirabolantes. Apenas me aquieto. Sem sorrisos, sem nada além da educação. Confesso que queria ser má em alguns episódios da vida, mas se você me aprontar uma e algum dia precisar de mim, pode apostar que vou ajudar. Não porque é você, mas porque é um ser humano. Se fosse um cachorro eu também ajudaria. As pessoas, a todo instante, nos dizem quem são. Basta a gente abrir bem os olhos e os ouvidos. Não sou tão forte e tão fraca quanto pareço. Me surpreendo o tempo inteiro: quando acho que serei fraca, fico forte. E vice-versa. Sou tudo ao mesmo tempo, preciso me acostumar com o turbilhão que nunca dorme.
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Esses dias eu chorei. Pura e puta necessidade. Tenho nojo de gente falsa. Por favor, use e abuse da sinceridade. Não fujo de nada, assumo meus acertos e erros sem cerimônia. Só não diga que uma coisa aconteceu, não invente uma historinha bonita e não tire o seu time de campo. É fácil, quando algo dá errado, procurar algum cristo para carregar a cruz. Isso é feio, é coisa de gente sem caráter. Depois de chorar pelo que aconteceu, pela dor de ouvido, por tudo, eu pensei: é, o mundo é assim, muita gente filha da puta mora nele. Eu, que tinha um mundo muito meu, tenho que aprender a entender que existem outros mundos. Posso tentar entender, só não me peça para participar e aceitar de peito aberto. Cada um tem o seu próprio limite. Não vou até o fim do mundo para passar por boazinha, não passo por cima de ninguém, não invento histórias para ser a toda poderosa do pedaço, não coloco nada no cu de ninguém, não tiro o meu da reta, não sou dissimulada, não minto na maior cara dura, não falo as coisas pela metade. Porque sou gente. E não uma pessoa ordinária.
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