Quanto mais a gente cresce, mais resiste. Por isso quero ser sempre gente pequena. Gente grande desaprende a enxergar o mundo com inocência, crença e fé. Gente grande fica com medo de experimentar. Gente grande deixa de acreditar.
É preciso crescer sem deixar para trás a curiosidade e a ânsia pelo novo. Quando eu era criança não tinha medo de experimentar a vida, me aventurar, reinventar. Eu só ia, sem medo, sem olhar para trás, sem me questionar, sem pesar prós e contras, sem escudos.
Temos que experimentar tudo, provar sabores. Aprender a cozinhar, substituir nas receitas. Juntar tudo que não casa e ver no que dá. Experimentar as emoções. Procurar se colocar no lugar do outro, se desdobrar, exercitar a humildade. Esquecer o egoísmo, a falta de jeito, o orgulho bobo e que nos trai.
Experimentar os sonhos. Fazer acontecer. Não ter medo de tentar, dar a cara a tapa, encarar o desconhecido. Se mostrar para o mundo, continuar acreditando. Experimentar o tempo. Utilizar melhor as horas. Otimizar o trabalho. Não se estressar por bobagem. Inventar outros caminhos e reinventar a rotina. Não deixar o mesmo tomar conta.
Experimentar o espelho. Trocar o corte de cabelo. Mudar o estilo. Pintar a unha de outra cor. Comprar uma saia mais curta. Colocar silicone. Usar um creme com outro cheiro. Experimentar a arte. Pintar, desenhar, cantar, dançar, atuar. Fazer o que nunca fez. Buscar uma forma nova de ser outro, sem esquecer quem é na essência.
Experimentar a resistência. Aumentar o fôlego. Tentar ir mais longe. Enxergar mais adiante. Forçar os sentidos e a superação. Caminhar, correr, fazer ioga, pilates ou simplesmente dar três voltas no quarteirão. Experimentar outros ares. Conhecer pessoas. Descobrir novas culturas. Viajar por estradas diferentes, sem mapa. Sair com uma mala, a coragem e uma garrafa de bebida embaixo do braço.
Experimentar o esquecimento. Esquecer para aprender. Ser solto para receber tudo como se fosse a primeira vez. Olhar um quadro por diversos ângulos. Olhar para si mesmo de quantas maneiras puder.
Experimentar ver o mundo pelos olhos de uma criança. Ser curioso. Sorrir com pequenas coisas. Ver tudo como se fosse a primeira vez. Cheirar as novidades. Degustar cada sentido. Abraçar todos os sentimentos, depois abrir a janela e ver o que acontece. Porque o que é de verdade sempre volta.
Experimentar a maturidade. Não ter medo de envelhecer. Saber que o tempo traz a segurança e algumas certezas. E ter a certeza de que o tempo é o melhor dono da incerteza. Sempre buscaremos o que falta, não importa quanto tempo passe.
Experimentar o experimentável. Procurar novas alternativas. Novos jeitos e formas. Tentar de uma forma diferente. Insistir no que dá, no que o coração aguenta, no que a paciência permite. E ter a sabedoria de abandonar tudo no tempo certo. Porque é preciso abandonar o velho para acariciar cada novidade.
Experimentar as sensações. Variar os sentidos. Exercitar tato, olfato, paladar, visão, audição. Juntar tudo e rir da quantidade de coisas que a gente não aprende nunca. Experimentar nas opiniões. Ser flexível. Manter os olhos abertos e atentos ao que acontece ao redor. E ao mesmo tempo saber apreciar um belo momento de olhos fechados.
Experimentar a liberdade. Ser responsável e se deliciar com o esquecimento de direção. Respirar novos ventos. Escancarar as janelas e curtir o silêncio. Ouvir o barulho interno. Ficar lado a lado com a solidão. Aprender a amar os defeitos para conseguir enxergar as qualidades.
Experimentar o amor. Abrir o coração. Livrar-se das armaduras. Jogar fora os desamores. Afogar os traumas. Rasgar as desilusões. Não colecionar rancores. Lembrar do que foi bom e perdoar o que passou, pois não volta. Cuspir os dessabores que o tempo trouxe. Jogar pela janela o modelito-sou-quem-mais-sofre-no-mundo. Não ter medo de sentar no colo da felicidade.
Experimentar uma nova decoração. Comprar revistas de outros países. Inventar. Pesquisar. Se inquietar. Jogar fora jornais velhos, recortes, trocar livros, doar calças, customizar camisetas. Praticar o consumo consciente. Comprar só o necessário. Se desfazer do que já não presta e do que não fica bem no ambiente.
Experimentar passar um dia experimentando. Ainda que seja em pensamento. É que tudo nasce primeiro do pensar. Mas só agindo que a gente mostra que o pensamento deu certo.
Experimentar a saudade. Algumas coisas não voltam - e que bom que não! - e outras passam rápido demais. Lembrar do que foi bom, guardar em um cantinho da bolsa e colocar na lixeira mais próxima o que faz doer lá dentro.
Quero crescer e não resistir. Quero ser gente pequena e resistir ao endurecimento que a vida adulta dá. Aquele verniz duro, seco e opaco. Quero brilho, final feliz e muitas crenças. Não importa no quê, mas quero acreditar. Primeiro em mim, é claro. E depois no mundo. Ah, o mundo! Ele é tão grande e ao mesmo tempo tão pequeno para os meus sonhos e tantas experiências. Me espera, mundo. Porque os meus braços estão abertos, sempre.