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Sempre gostei de crianças. Algumas pessoas não gostam muito e se irritam com o choro, o riso, o barulho e os cocôs nas fraldas. Acho as crianças iluminadas, puras, doces. Criança fala o que pensa na cara, não faz rodeio nem floreia uma situação. A sinceridade deles chega a doer. Tem coisa melhor que cheirinho de bebê?
Algumas mulheres têm o instinto materno super em evidência, outras não. Muitas sempre sonharam em ter filhos. Outras nunca pararam para pensar muito nisso, mas um belo dia a menstruação atrasou e, pimba, nenê na área. Existem, ainda, as que sempre quiseram ter um bebê e nunca conseguiram (pelos mais diferentes motivos).
Uma coisa é certa: mulher muda depois que é mãe. Você deve estar pensando que estou falando o óbvio. Sim, é óbvio. O corpo muda. O cabelo muda. O comportamento de muitas muda. E, principalmente, o assunto muda. Quem está grávida fica relatando quantos enjoos já teve, quantas vezes por dia o bebê chuta, como se ele mexe, quantos quilos engordou, quantos livros sobre “Como cuidar bem de seu bebê” já leu, quantas roupinhas têm dentro do armário do futuro rebento. Quem acaba de ter um filho adora dizer de quanto em quanto tempo ele mama, quantas fraldinhas suja por dia e, meu Deus, o sono já não é mais o mesmo, como chora essa criança. Quando o nenê começa a sorrir, olha lá, que risadinha gostosa. Quando nasce o dentinho, ai, ai, ele não para de chorar. Quando ele começa a comer papinha, que coisa bem fofa. Quando ele começa a engatinhar, vamos colocar proteção nas tomadas e portãozinho na escada. Quando ele começa a caminhar, vamos tirar coisas perigosas de cima da mesa. Quando ele começa a falar, olha que gracinha, “mamãe”. Quando, quando, quando. Uma mãe tem sempre uma história nova para contar.
Ainda não tenho filhos, mas deve ser uma sensação indescritível ver uma criaturinha que saiu de dentro de você crescer e se tornar tão linda. Mas vou procurar me policiar. Juro que vou. Tenho algumas amigas que tiveram filhos e só falam das crianças, parece que não têm mais vida, nem trabalho, nem sonhos, nem relacionamento, nem nada. Muitos homens reclamam que são deixados de lado depois que a criança nasce: a mãe se volta somente para o bebê. Não quero fazer isso com meu marido, acho injusto. Acredito que tudo deve ser dividido: pai e mãe precisam participar ativamente da criação de seu filho. E isso envolve levantar no meio da noite para ver o porquê de tanto choro.
Uma mãe, antes de ser mãe, é mulher. Tem vida profissional, amigos, responsabilidades, vontades. Sei que uma criança muda muito a vida de uma mulher. Mas vejo tantas mulheres que conseguem segurar a onda numa boa: têm filhos, têm trabalho, têm almoço com as amigas, têm ginástica, têm supermercado, têm terapia, têm aula de pintura, têm livros, têm cinema, têm viagens, têm amor, têm tempo para fazer hidratação no cabelo.
O que não dá para acontecer é só falar da criança. Uma coisa é contar com empolgação sobre as mil coisas que seu filho faz. Outra coisa é se tornar chata. Em um almoço com duas amigas que são mães me senti completamente de fora. O papo era a chupeta que o filho de uma largou e a má alimentação que o outro tem. Me senti boiando, afinal, só tenho uma planta verde que fica ao lado do sofá e só precisa de água uma vez por semana. Acho que as mães não deveriam esquecer que existem outros assuntos. E, principalmente, que elas têm vida. Um dia o filho cresce, sai de casa, bate as asas e você percebe que a vida passou voando.
