Analisando a vida pela janela

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(Em outras palavras, de vez em quando a gente precisa levar fortes sustos para começar a viver de verdade.)



Escrever, para mim, é mais ou menos como respirar. É uma coisa que preciso fazer a toda hora, senão morro. Nem sempre posto textos no blog, mas isso não quer dizer que eu não esteja escrevendo. Meu computador é cheio de textos, frases, pensamentos, fragmentos. Quando preciso mostrar para o mundo minhas letras e não dá tempo de escrever um texto para você ler, posto no Twitter alguma bobagem que crio, invento, penso.

Me ausentei um pouco daqui. E não vou contar nenhuma lorota do tipo estava-sem-tempo-estava-correndo-muito, pois acho que isso são apenas lorotas. Tempo a gente arruma. Se alguma coisa é importante e essencial, tempo a gente arruma. O fato é que eu estava sem vontade, sem forças para escrever. Por isso, repensei a minha vida. Estava em um emprego horrível, chegava cansada e carregada todos os dias, convivia com pessoas que nunca mais pretendo conviver. Não gosto de quem vive falando mal do outro, de quem tem inveja, de quem fica feliz com a falta de sucesso do outro. Da mesma forma que não gosto de grosserias, gritos, falta de organização e respeito. Tem gente que se acha superior e melhor que os outros. Tem gente que vibra quando alguém se dá mal. E isso, de verdade, não é pra mim. Energia negativa e falta de profissionalismo não são pra mim. Mas, enfim, me libertei. Fui em busca de algo melhor, muito melhor (!!!).

Antes de começar em outro lugar, achei que merecia uns dias de presente. Para renovar as energias, a alma, arrumar a casa, deixar tudo em ordem. Mas meus dias, que eram para ser de sossego, foram de descobertas. Em uma consulta médica bem simples, de rotina, descobri que estava com a pressão alta. Mas alta mesmo: 18 por 10. Fui parar na emergência do hospital duas vezes, dois dias seguidos. Eu, com 29 anos, fui ao cardiologista e estou tomando remédios para estabilizar a pressão. Estou resumindo tudo, pois muitas coisas aconteceram nesse meio tempo. A mais séria delas foi que descobri que estou tendo ataques de pânico. Alguns psiquiatras diriam que estou com a síndrome, mas o meu diz que é apenas o início, o começo, ataques, crises. Posso dizer para você que a sensação é horrível. Se você teve sabe bem do que estou falando. A garganta fecha, o coração acelera, o peito vai ficando pequeno, pequeno, pequeno, você se sente tonta, enjoada, tudo junto, tudo ao mesmo tempo, uma sensação de impotência, fragilidade e morte. Sim, porque você acha que a qualquer minuto vai cair dura no chão, que vai morrer, empacotar.

O cardiologista me passou um tratamento, o psiquiatra me passou um tratamento. Todo mundo me passou um tratamento. Mas e essa coisa que não passa? Sempre fui do time dos que não sossegam. Meu pensamento fervilha, minhas ideias vivem fazendo maratona dentro da minha cabeça. Dizem que os escritores são todos meio loucos, né? Quem sabe eu seja uma louca também. O fato é que minha vida passou por diversas mudanças, tive que ir me adaptando a cada uma delas. Descobri que fico sensível com mudanças. Mudança de emprego, mudança interna, mudança brusca na vida. Acho que tudo isso resultou em uma hipertensão, que pode ser temporária ou não. O fato é que preciso me cuidar - e estou fazendo isso. Como sempre associei pressão alta com a morte (minha avó teve AVC, meu avô teve infarto, muitos casos de hipertensão na família), isso deve ter desencadeado o pânico. Não sei, estou aqui me analisando, afinal, meus anos de psicologia serviram para alguma coisa.

Estou muito assustada, pois nunca fui assim. Pra você ter uma ideia, eu tenho medo de tomar banho sozinha em casa. É claro que eu sempre tive alguns medos: morro de medo de lagartixa, não gosto quando falta luz e fico no escuro, tenho medo de trovão. Mas esses medos são comuns, normais, entende? Não é um medo que me impede de seguir em frente. Mas este medo, sim. É um medo diferente. Eu amo viver, não quero morrer. E nos ataques de pânico a sensação é de morte imediata. Uma coisa horrível, não desejo nem pro meu pior inimigo imaginário. E é uma coisa que não tem muita explicação, hora, momento para acontecer. Ela simplesmente acontece, vou ficando pálida, com as mãos geladas, coração acelera, sinto enjoo, dor no peito, parece que vai me dar um troço e vou morrer.

Doenças me fragilizam. Sempre fui a que acompanhou os doentes. Quando minha mãe esteve doente, eu tava lá. Quando meu pai fez cirurgia, eu estava lá. Quando minha avó se operou, eu tava lá. Nunca tive nada sério. Nunca fiquei doente. Quando vi que minha pressão tava alta e não cedia, me apavorei. Chorava, chorava. Me senti pequena, relacionei o fato aos meus avós. E isso me deixou muito mal, tão mal que tive o ataque de pânico. Repito: só quem já teve sabe o que é. Não adianta dizer te-acalma-fica-bem-tudo-vai-ficar-bem. Não adianta o médico dizer sei-que-a-sensação-é-de-morte-e-é-uma-merda-mas-tu-não-vai-morrer.

O médico disse que preciso me sentir cuidada, preciso de atenção, é um momento delicado, tenho que me sentir segura. Por isso, estou na casa da minha mãe. Amigos queridos me escreveram, ligaram pra saber como eu estava. Nesses momentos a gente vê que muita gente nos quer bem. Isso reconforta um pouco, mas não ameniza. Hoje tive outro ataque, mas tomei o remédio que ele me deu, acho que as coisas vão começar a melhorar.

Sempre tive uma sensação de que não viveria até os 30. Talvez isso agrave as coisas, pois faço 30 em outubro. E você sabe como a cabeça da gente pode ser bem cretina e inventar coisas. Mas uma coisa é certa: não morro sem conhecer Paris. Não mesmo. Acho que esse é um aviso pra eu desacelerar, pegar mais leve, não ser tão tensa, relaxar mais, deixar o nervosismo e a ansiedade de lado, deixar de querer fazer tudo ao mesmo tempo, resolver tudo, fazer tudo rápido, mandar o orgulho pra puta que pariu, recomeçar de forma mais tranquila. É isso: tenho que ser mais tranquila.

Me desculpe, este é só um desabafo. Não é uma crônica legal, não é um texto bonito de amor, não é uma coisa boa de ler. Estou dividindo com você um sentimento, é uma crônica da vida real, porque a vida real é cheia disso também. E eu não sou a pessoa que sabe tudo, a que não tem defeitos, a que entende de muitas coisas como alguns pensam. Na verdade, eu não sei de nada. Estou aqui aprendendo, dia após dia. Porque sou humana assim como você.

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