Todo mundo em pânico

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Sempre tive uma veia Maria-la-del-Barrio-soy. Forte. Bem forte. Minha mãe diz que desde bem pequena sou uma pessoa dramática, do tipo atriz de novela. Hoje penso que poderia ter investido na carreira, de repente estaria com o porquinho cheio de moedas, vai saber? O fato é que os dramas sempre foram engraçados. Ou não. Na TPM, os dramas eram fortes, intensos, cheios de lágrimas e uma certa raiva (toda mulher sabe que baixa a Cabocla da Briga na TPM). No resto dos dias, arriba, Mexico baixava em mim, assim como uma entidade. Um pouco de manha, um pouco de charminho, um pouco de tudo. Mas até então eu nunca tinha passado por dramas reais (falo comigo, não com os outros, pois já tive dramas familiares, perdas, doença na família e etc., como todas as pessoas comuns).

Minha saúde sempre foi ótima, apesar das cólicas menstruais, enxaquecas e pressão, até então, baixa. Nunca fui parar no hospital, a não ser uma vez, por causa de uma gastrointerite maldita. Mas desde pequena sempre fui muito saudável, quase não dava trabalho. Enquanto a minha mãe vivia na volta do meu irmão, que fez cirurgia no olho quando era bem pequeno e teve algumas pneumonias que deixaram ela assustada, o máximo que fiz foi coisinha de criança, tipo enfiar um feijão no nariz e brigar na escola por justiça. Dá pra ver que desde cedo tenho essa ideia do mundo justo. Veja bem, odeio quem diz veja bem, falo do mundo justo, não do mundo ideal.

Sempre abracei o mundo e os problemas alheios, por isso muitas vezes esqueci os meus (será que eu queria fugir da minha própria vida?). Não vejo isso como qualidade, muito pelo contrário, para ajudar alguém precisamos nos ajudar primeiro, a regra é clara. Mas não consigo ver que alguém precisa de ajuda e ficar de braços cruzados, parada. Isso tudo faz com que eu seja tensa e queira ter domínio de tudo. Quero resolver tudo, ajeitar tudo. E me dou mesmo, me ofereço, procuro fazer o possível pelas pessoas que gosto. Muitas vezes faço o impossível também. Mas eu sou um ser humano, tenho toneladas de defeitos e um deles é, ainda que sem querer, esperar que a outra pessoa também se preocupe comigo. Sei que cada um demonstra preocupação de um jeito, cada um ama de uma forma, não existe certo e errado. Alguns dizem que a frase é de Shakespeare, outros do Gabriel García Marquez, não sei de quem é, mas acho ela super verdadeira "Só porque alguém não te ama como você quer, não significa que não te ame com tudo o que pode". E é isso mesmo. Não podemos exigir amor, o nosso amor ou a nossa forma de amar não é a certa, isso não existe.

Acontece que muitas vezes ficamos vulneráveis, frágeis e, de repente, a outra pessoa não sabe direito o que está acontecendo, o que está havendo, qual a gravidade da situação ou como estamos nos sentindo por dentro. E tem o seguinte: muitas vezes a pessoa realmente nem quer saber. Tem outra vida, outras coisas na cabeça, outros interesses, não está com tempo para falar disso ou daquilo, está sem saco. Cada um tem a sua bagagem emocional, seus próprios problemas. Acho ruim e feio cobrar, pedir, chamar a atenção. Certas coisas não tinham que ser ditas, eram para ser percebidas. E, me desculpe, isso nada tem a ver com expectativas. Isso tem a ver com enxergar o outro. Você sabe que o outro está passando por uma situação atípica, você sabe que o outro está com medo, inclusive o outro disse com todas as letras que estava preocupado e triste. E você age como se nada estivesse acontecendo.

Sim, eu falo muito em enxergar o outro, em perceber o outro. Acho isso muito importante. Em um determinado momento, pela primeira vez, não percebi o outro tanto assim e fui chamada de egoísta. Não considerei egoísmo, mas talvez eu não estivesse com a visão do todo. O que eu fiz? Mudei, relevei certas coisas, enxerguei mais o outro. E tudo caminhou bem. Mas agora, neste momento, desculpe, estou triste e não tenho como fingir que não existe uma tristeza batendo na minha porta. Meu irmão diz que a gente tem que avisar quando precisa de ajuda, de atenção. E eu avisei, mas não adiantou porcaria nenhuma.

Sabe, eu penso que se alguém é importante para você alguém é importante para você. Como é que alguém que eu amo vai me dizer que está triste e não vou fazer nada? Como é que alguém que eu amo diz que está tendo ataques de pânico (oi, você sabe o que é isso? pesquise e veja como é legal a sensação) e vou agir como se fosse um vizinho, um conhecido distante? Como é que alguém que eu amo pede um pouco mais de carinho e vou fingir que não ouvi nada? Não entendo. Francamente, não entendo. E, além de não entender, sinto uma tristeza funda. Acho que é a primeira vez que me sinto assim. Descobri tantas pessoas nesses dias, gente que ficou do meu lado, me ligou, me escreveu. E a pessoa que eu mais queria ao lado simplesmente não está. Sei que cada um tem sua vida e seus compromissos, mas existem mil formas de se fazer presente. E, me desculpe novamente, isso não são expectativas. É uma coisa básica: uma das pessoas mais importantes da sua vida está passando por um problema foda. É isso.

Eu não me frustro, não. Tem expectativas-mini que realmente geram mini-frustrações, mas que são até saudáveis para o crescimento e a evolução, afinal, eu já descobri que o mundo não é conto de fadas. Mas não venha me dizer que eu tenho expectativas demais, por isso me frustro muito e numa dessas vou me frustrar até quando for para Paris. Não, isso não.

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