De frente para você

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Que coisa triste. Triste, triste, triste. A gente joga no outro nossas incertezas, nossas não realizações, nossas pequenas infelicidades, nossas fraquezas, nossas asperezas, nossas raivas e nossas agonias. Isso é errado, errado, errado. E continuamos fazendo, inconscientes, incoerentes e cegos.


Tem gente que projeta, sente ciúme, faz pirraça, birra e trapaça. E tem gente que faz tudo isso ao mesmo tempo e nem percebe. A gente tem muito ódio colado no peito. Isso é cruel. Mas a gente tem e precisa aceitar isso, precisa entender, precisa se descobrir para, então, vomitar tudo, cagar tudo, cuspir tudo, colocar tudo para fora e começar novo, de novo.


Perguntam se meus textos são autobiográficos, se no meu livro falo de mim. Já respondi isso inúmeras vezes. Uma pessoa que escreve fala e não fala dela. A gente inventa, aumenta, não se contenta e pega uma história daqui, outra dali, soma, divide, multiplica e faz equação maluca. Tem uma pitada real, outras fajutas. Muitas reais, uma fajuta. É um baile de verdade e invenção, mas me pergunto: faz diferença saber se o que escrevo acontece ou é fruto da imaginação? Tem uma frase de uma carta do Caio Fernando Abreu que me veio na cabeça agora "Eu não sou o que escrevo ou sim, mas de muitos jeitos. Alguns estranhos." Nunca consegui escrever tão bem e de uma forma que resumisse isso tudo. Mas o Caio conseguiu, ele sempre conseguiu.

Voltando ao que dizia, a gente tem que aproveitar mais a vida. Ler, fazer o que gosta, viajar, conhecer o mundo, conhecer as pessoas, as culturas, conhecer a gente mesmo. Acho que o ser humano demora muito para se confrontar, para se entender, para se buscar. Medo? Talvez. As pessoas têm medo da solidão e da própria companhia. Medo de se encarar de frente, de enxergar cada sinal do tempo, cada marca que a vida trouxe e fez. Isso não é legal, não é maduro, mas é muito humano.

As pessoas deviam aproveitar a vida para promover aquele encontro amigo você-e-você. De manhã, com bafo, sem ter penteado o cabelo nem tomado banho. Você e você. O você real, não o enfeitado, não o perfumado, não o arrumado. Você sem retoques. Sem armas. Sem máscaras. Sem truques. Porque é só assim que a gente se conhece de verdade.
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