Minha adolescência foi meio complicada. Nunca roubei o carro do meu pai, nunca tirei o sutiã no meio de uma festa, nunca beijei mais de um cara em uma noite, nunca caí de bêbada na rua, nunca me viciei em drogas. Mas quer uma verdade? Já experimentei, sim. Fui adolescente, fui curiosa, fui ver como era. Não gostei. Meus pais souberam porque eu disse. Cheguei e contei, sim. Não vi nenhum problema, afinal, a gente precisa experimentar algumas coisas nessa vida, passar por algumas situações para crescer e, finalmente, fazer escolhas. Meus pais aceitaram numa boa, não me colocaram de castigo, não cortaram minha mesada, não me deram uma surra.
Fui sincera. A sinceridade tem seu preço, eu e você sabemos. Mas acho legal ter uma relação boa com pai e mãe para chegar e dizer eu-fumei-maconha-eu-tomei-tequila. Se eu tinha intimidade pra deitar no colo da minha mãe e chorar por causa da paixonite da vez, eu também tinha intimidade pra chegar no meio de um almoço e contar para meu pai e minha mãe que cheirei lança-perfume no Carnaval. Nunca fui de esconder e mentir. Matava aula? Dizia. Experimentava uma bebida diferente? Contava. Isso criou um elo legal, uma ligação boa, uma cumplicidade bonita. Meu pai dizia "quer beber, bebe em casa". E acho que ele estava muito certo. Minha mãe dizia "sempre conta a verdade". E eu acho que ela estava muito certa. Pretendo ter esse diálogo aberto com minha filha ou meu filho. Acho importante, acho sadio, acho bom.
Minha adolescência foi meio complicada. Era da turma do fundão, chegava o fim do ano e eu rezava para todos os santos em busca de uma intervenção divina. Eu precisava passar de ano e por isso fazia promessas. Logo eu, que nunca acreditei em promessas, dizia "Deus, faz eu passar que fico sem comer chocolate nos finais de semana". Que bobagem. Acho que a gente não precisa prometer uma coisa pra ter outra. Deus vai além disso. A gente não precisa se sacrificar, subir escadarias de joelhos, passar fome, fazer bolhas nos pés. Além do mais, se é pra ser vai ser. Mas isso eu só aprendi mais tarde.
Lembrava de agradecer aos 45 do segundo tempo. Passava sempre com as calcinhas na mão. Sempre tive muita sorte, hoje vejo. Engraçado, às vezes a gente se sente o mais azarado do mundo. O tempo passa, a gente cai na real e vê as coisas como elas são: sortudas. E eu sempre tive muita sorte, minha família sempre ficou do meu lado e me apoiou quando mais precisei. Aceitaram as coisas que pareciam loucas, entenderam o que eu queria para a minha vida. Não foi fácil, nada é. Mas valeu muito a pena.
Hoje, então, eu não quero deixar pra depois. Quero esquecer promessas. Esquecer o primeiro tempo, o segundo. Esquecer planos, esquecer conquistas, esquecer o que passou e não lembrar do que virá. E quero agradecer. Obrigada, pai. Obrigada, mãe. Obrigada por estarem sempre comigo. Obrigada pelos abraços, pelos conselhos, pelos empurrões. Obrigada por terem aguentado tannnnnnnnnnta coisa. Obrigada, amor. Obrigada, irmão. Obrigada, tios. Obrigada, avós. Obrigada, amigos. Obrigada, conhecidos. Obrigada a cada um que vem aqui e me lê quietinho. Obrigada a você, que lê e sorri, que lê e chora, que lê e para pra pensar. Obrigada a você, que lê e me manda e-mail fofo. Obrigada a você, que comprou meu livro (quem ainda não comprou, ei, compra, R$35,00 e frete gratuito para todo o país). Obrigada a você, que vem aqui, lê e comenta. Obrigada por cada palavra bonita, por cada carinho, por cada gesto delicado. Obrigada aos amigos que fiz. Obrigada a você, que nem me conhece, mas torce por mim. Obrigada de verdade, me emociono com as coisas que vocês escreverem. Mesmo.
Hoje eu lembrei que tem coisas que a gente jamais pode esquecer. Agradecer é uma delas: obrigada, de coração cheio e sorriso largo.