O poder dos filmes de terror

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Sempre fui muito dramática. Não uma dramática qualquer, mas uma dramática dramática dramática. Se eu me machucava dizia que tinha uma fratura exposta. Se eu tropeçava dizia que quase tinha caído e me quebrado. Se eu caía na escada dizia que tinha quase morrido. Acho que desde bem pequena sou muito intensa, por isso esse drama todo.


Minha vida sempre foi muito, demais, bastante. Sentimentos não eram pequenos, dores não eram pequenas, nada era pequeno dentro de mim. Meu coração, coitado, sempre sofreu muito. Minha mãe, coitada, sempre me ouviu muito. Minhas emoções são imensas. Vivo nos excessos. E não acho isso bom, não. A gente tem que buscar o equilíbrio. Eu, por ser assim, vivo na corda bamba. Às vezes caio, me ralo, me rasgo, mas sempre me costuro. A gente precisa se costurar e dar um jeito. Esse é meu lema: arrumar as bagunças internas e externas.


Gosto de filmes de terror e suspense. Gosto do medo. Gosto do medo de sentir medo. Gosto de sentir na pele o poder da imaginação. O arrepio, o coração disparado, o vou-não-vou-levantar-e-ver-o-que-acontece. Apesar de tudo, sempre fui muito valente. Se eu ouço algum barulho vou ver o que é, na cara e na coragem. Mas sou daquelas que fecha os olhos na hora de cenas fortes.


Ontem estava voltando da serra, uma chuva intensa e imensa, raios, relâmpagos, trovões, pista molhada, vários carros. Lá pelas tantas, no meio da música do Djavan, o som parou. Pensei epa-algo-está-havendo. Minha cachorrinha dormia tranquilamente no banco de trás. Comecei a ficar tensa. Francisco disse que algo-estava-havendo. Logo em seguida, as luzes do carro piscaram loucamente e ele foi perdendo a vida. Procuramos algum tipo de acostamento, um local que oferecesse o mínimo de segurança para a gente parar e pedir ajuda. Até que achamos, paramos. Meu coração disparou: ali era um lugar perigoso, um carro, caminhão, van, ônibus podia não nos ver e bater bem na traseira do carro. Francisco ligou para o seguro, pediu socorro. A tarde ia embora, a chuva aumentava e o tal "acostamento" tinha virado puro barro, lama. Uma belina bem velha tinha atolado, um casal dono da fruteirinha que ficava ali nos ajudou, disse o lugar onde estávamos. Francisco passou todas as informações para o pessoal do seguro. E passou 10 minutos, 15, meia hora.


A noite chegou e com ela vieram os medos. Estávamos no meio do mato, sem luz alguma. A única claridade que tinha era dos relâmpagos e das luzes dos carros que passavam. Minha mente começou a viajar: e se batessem no nosso carro? E se viessem nos assaltar? E se um estuprador aparecesse? E se algum carro parasse para oferecer ajuda e nos sequestrasse? E se um fugitivo da cadeia viesse e dissesse "pé na tábua"? Até explicar que o carro não funcionava a gente já teria virado churrasquinho de cobra. E se surgissem bichos selvagens do meio do mato e nos devorassem? E se aparecesse um psicopata? E se um serial killer nos matasse? E se algum de nós tivesse uma parada cardíaca? E se?


É o "e se" que nos mata. Ou que nos faz viver. De qualquer forma, acho melhor dar um tempo nesses filmes.


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