Segredos nem tão secretos assim

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Algumas coisas me incomodam muito. Não gosto dessa mania das pessoas de se meterem na vida das outras sem saber nada, nada, nada. Muita gente faz fofoca sem saber as verdades e então saem por aí inventando coisas que viram moda. Na realidade, acho que não gosto das pessoas. Sério, elas são estranhas, mesquinhas, pequenas, às vezes meio malditas.


Escrevo há muito tempo. Desde que aprendi a escrever eu escrevo, se é que você entende. Aprendi a escrever meu nome, depois aprendi que Ivo viu a uva. E fui juntando letras, formando frases. Lá pelos sete, oito anos, escrevia cartões para os meus pais. Com nove, dez, escrevia cartas longas e bonitas. Ficava ao lado deles, olho colado no olho, esperando a reação, uma respiração emocionada, alguma lágrima teimando em cair. Passei a vida escrevendo cartas. Quando era adolescente, tinha diários, caderninhos, coisas minhas. Uma vez fui em um bruxo. Eu devia ter uns 17 anos e ele disse: escreve sempre. Escreve sobre o que te dói, o que fica entalado na garganta. Sou o contrário do que todos pensam: nunca fui tarada pela leitura, esse gosto veio depois. Meu pai insistia para eu gostar dos livros, eu insistia em ser rebelde sem causa. Ele me deixava palavras para eu procurar no dicionário, para que eu aprendesse a manusear o Amansa Burro. Quando voltava para casa queria ver todos os significados.


Então eu cresci. Achei que devia ajudar as pessoas, o mundo, eu mesma. Queria ser psicóloga. Antes disso, como não tinha passado no vestibular para Psicologia, fiz três anos de Direito. Odiei aqueles alunos perambulando com o Código Civil embaixo dos braços pensando que eram grande coisa. Mas como não tinha entrado na Psicologia, era aquilo que a casa oferecia. Três anos depois, saí. E fiz quatro de Psicologia. Fiz terapia e lá pelas tantas me entendi: aquelas cartas que eu escrevia quando pequena nada mais eram do que o desejo de causar emoção nas pessoas. Sempre quis causar emoção através das palavras e isso se manifestou desde cedo.


As coisas nunca foram fáceis. Dei muita cabeçada até encontrar meu caminho, até entrar em sintonia comigo, até decidir o que queria. Então eu descobri a felicidade. Tenho o blog desde 2005. Não é fácil manter um blog, não. Não gosto que me chamem de "blogueira", não sei direito o motivo, mas soa pejorativo, adolescente. Não é hobby, é profissão. Amo escrever e sei, perdoa se soa metido isso, que escrevo bem. Mas quero que você saiba que nada aconteceu do dia para a noite.


Escrevi muito. Escrevi como desabafo, catarse, divã. Inventei histórias, amores e horrores. Isso aqui não é confessionário, eu aumento, misturo realidades minhas e não minhas e ficção. Falo de sentimento, de relações, do cotidiano, das pessoas em geral, afinal, todo mundo tem muitos lados. No ano passado, em maio, lancei meu primeiro livro de crônicas. Um Pouco do Resto demorou muito tempo pra sair. Foi um livro desejado, sonhado, pensado. Em breve, sai outro. E tenho um infantil desde 2008, estou procurando alguma editora que queira publicar. É uma história linda.


Tenho muitos leitores fiéis, outros vão chegando e sentando - e eu adoro, afinal, a casa é de vocês. Muita gente me seguia no Twitter. Então, lá pelas tantas, escrevi um texto como tantos outros: "Meu lado Maria". Encaminhei o texto para alguns jornalistas e gente que escrevia sobre o Big Brother. A coisa foi andando de tal forma que saiu do controle. Em um domingo, estava no quarto e dei um grito quando escutei o Pedro Bial falando uma frase minha, a última frase do texto da Maria. Saí berrando pela casa, assustando a cachorra e meu marido (engraçado falar assim, é namorado e mora junto, então é marido, pois a gente é casado de alma). E meu Twitter foi invadido por vários mil seguidores. E choveram e-mails, gestos de carinho, gente bacana surgindo. Uma repercussão enorme, gigante, assustadora. E eu pensei: não posso decepcionar essa gente toda. Vou continuar escrevendo, quem gostar mesmo de mim vai continuar ao meu lado, quem não gostar vai embora. Para a minha felicidade, quase todos ficaram.


Só que nem tudo é tão perfeito assim. Certas coisas realmente me chateiam. Teve gente que me chamou de puta, afinal, escrevi um texto sobre a Maria. Teve gente que sentiu inveja, afinal, o Bial citou minha frase em rede nacional. Teve gente que quis puxar meu tapete, teve gente que quis virar minha amiga, teve gente que quis pegar uma carona nessa onda, teve gente que veio dizer que eu copiei determinado texto (não o da Maria) porque falei sobre o mesmo assunto e fiz uma citação da mesma pessoa. Alô, pessoal? As pessoas podem escrever sobre os mesmos assuntos, cada um com sua visão, seu estilo de escrever. Me irrita a pessoa se achar tão centro do mundo, tão boa a ponto de pensar que vai ser copiada. Graças a Deus, nunca copiei nada de ninguém. E se eu me inspirar em alguém, aviso, dou crédito, faço o certo. Odeio acusações infundadas e mal formuladas. Detesto gente que ama aparecer a qualquer custo. E detesto mais ainda quem se acha a rainha da cocada preta. Teve gente que me escreveu dizendo "parei de te seguir, você não soube aproveitar seu momento". Que momento, me diz? Eu ralo há tempos. E ralei muito, levei muito não, mas não baixei a cabeça. Fui atrás. Não tive ajuda de ninguém influente - e olha que conheço muita gente. Ninguém me pegou pela mão e me levou até o topo da escada. Subi sozinha e no escuro. Então lava a boca pra falar de mim e "do meu momento". Nada caiu do céu. Batalhei e me orgulho disso. E se alguém me lê, se alguém me descobriu, se alguém gosta de mim é por mérito meu. De mais ninguém. Me esforço pra caramba e não admito certas coisas.


Uma pessoa que não gosta de mim chegou a dizer que eu devia aproveitar meus minutos de fama. Mas eu nunca quis ser famosa. Só queria ser lida. E isso eu sempre fui, graças a Deus. E se hoje mais gente me lê e me conhece, que bom, eu agradeço de verdade. De verdade verdadeira, pois eu gosto de quem sabe o valor das palavras simples, das palavras doces, das palavras puras, das palavras.



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