Nossos olhares

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Falo, falo, falo. Desde criança sou bem conversadeira. Prova disso é que no meu boletim sempre vinha escrito que eu conversava demais. E que tinha que prestar mais atenção. Como gostava de fazer social, ficava de papo com todos os colegas. Isso fazia com que eu não me concentrasse tanto. Nunca gostei de trabalho em grupo, hoje entendo que é porque eu não gosto de depender dos outros. Sempre quis fazer tudo e muito e rápido (e infelizmente não mudei).


Minha avó sempre disse que a gente tem dois ouvidos e uma boca. Em outras palavras, isso era uma indireta direta para eu fechar a matraca e ouvir mais. Apesar de ter aprendido a pensar um pouco antes de falar, nem sempre as coisas saem certinhas. Tenho uma mania de tomar conta das pessoas que são importantes pra mim como se elas fossem indefesas. É bobo, eu sei, mas me preocupo com coisas do tipo já-comeu-tá-doente-tá-com-frio-não-esquece-o-casaco-hoje-tá-quente-pra-sair-de-blusão e outras coisas piores, como ver se a pessoa está respirando no meio da noite. Nem todo mundo tem 3 anos como o meu sobrinho. As pessoas são grandes e sabem se cuidar (alguém pode me lembrar disso todo dia?).


Nem todo mundo entende e aceita meu jeito. Aquele jeito meio preocupada, aflita, nervosa, mãezona, chatonilda. Nem eu me aceito às vezes. Tem dias que nem consigo ver a minha cara no espelho. Tenho que aprender a falar menos e cuidar só da minha vida. Cansada de querer o bem dos outros e levar patada. É que tem gente que simplesmente não entende. E eu fico chateada, não dá vontade de explicar, penso que não vale a pena perder tempo e gastar meu latim com quem não quer meu carinho.


Antes de pensar no outro a gente precisa pensar na gente (alguém me lembra disso daqui a 10 minutos?). E sempre fui de colocar o outro na frente. Se você está com problema, sentou aqui e contou, pode ter certeza que vou ficar pensando numa forma de ajudar. Vou movimentar quem eu conheço pra ajudar. Já dei roupa, dinheiro, comida, tempo, ouvidos, colo, abraços. Já dei minha paz.


Uma vez, meus pais iam separar. Eu, preocupada com o destino de cada um, passava as noites em claro. Durante um mês e alguns dias a minha vida foi o mais completo inferno. Esqueci de mim, só pensava numa forma de ajudar eles para ficarem mais felizes e não sofrerem. Dormia e acordava chorando. E de quebra ficava me disfarçando, afinal, eu estava ali pra ajudar e não para chorar feito uma bobinha. Uma vez, minha avó fez uma cirurgia e ficou vários dias no hospital. Eu, em período de provas e entrega de trabalhos na faculdade, dormia com ela todas as noites. E mesmo tendo enfermeiro era eu que trocava a fralda. Uma vez, uma amiga estava com um problemão. Precisava de muito dinheiro. Eu, mesmo não tendo a quantia, vendi coisas minhas pra ajudar. E consegui.


Não mereço um prêmio por nada, nadinha disso, fiz e faço muitas outras coisinhas, coisas e coisonas porque gosto, porque me sinto bem fazendo, porque acho que certas coisas a gente precisa e deve fazer. É o meu jeito, é a minha maneira de viver. Só não quero me frustrar tanto com os outros. Sempre penso que se eu faço o outro também pode fazer e isso é errado, tá errado, muito errado (me lembra disso hoje e amanhã e depois?), afinal, cada um é de um jeito, cada um tem seus valores, cada um tem sua personalidade, cada um tem sua prioridade, cada um tem um estilo de ser e ver. Mas uma coisa é certa: preciso parar de olhar tanto para você e olhar mais para mim.
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