Quando eu era adolescente tive um namoradinho que gostei muito. Eu sei que nessa fase a gente gosta muito de todo mundo. Mas gostei dele mesmo. Resolvi ver até que ponto ele gostava de mim. Cheguei na frente dele e disse "querido, acho que isso não vai dar certo." Sabe o que ele fez? Concordou. Disse que também achava, pegou a mala e a cuia e foi-se. Fiquei arrasada. Mas eu falei, teoricamente, o que queria. Não era pra ter ficado triste. Pedi, levei. Só que eu tinha outra expectativa. Eu tinha imaginado a fala dele. "Querido, acho melhor a gente não se ver mais, isso não dará certo...". Nesse momento, ele se ajoelharia no chão e diria "por favor, meu bem, não me deixe, eu te amo." Pronto, era pra ter sido assim. Oh, oh, não foi. Eu joguei. E me estrepei. A gente não adivinha a mente dos outros, tampouco a reação das pessoas. Pessoas não são previsíveis, por mais que pareçam ser.
Além do mais, existe um perigo muito grande em jogar. Pra começar, não se joga com as pessoas. É errado. E perda de tempo. Acho que todo mundo ia ser mais feliz se não jogasse. Gosta? Diz. Não gosta? Fala. Franqueza com os outros e consigo mesmo. Dói dizer a verdade? Às vezes. Só que a mentira dói muito mais. O jogo é perigoso. Sei que no começo de qualquer relacionamento ele faz parte, ele está presente. Mas eu não gosto e pronto. É tão difícil dizer o que quer? Não, né. É fácil.
Não diz uma coisa pensando (achando, imaginando, tendo ataques de ilusão) que a pessoa tomará tal atitude. Sabe por quê? Simplesmente porque a pessoa em questão pode tomar outra. É justamente por isso que prezo pela verdade. Não é vergonha nenhuma dizer o que gosta, o que quer, o que tem vontade. Assim como não é vergonha nenhuma a gente deixar bem claro o que não gosta, suporta ou tolera. Se as pessoas fossem mais verdadeiras consigo e com os outros certamente muitos corações seriam poupados. E os relacionamentos seriam baseados em verdade, logo, mais duradouros e sinceros.
Vergonha é ser infeliz.