Penso, logo cometo o ato de existir. Existo, logo sinto. Sinto, logo erro. Erro, logo cometo o fato de recomeçar...
Tudo errado. Por favor, me afogue numa banheira cheia de champagne. Não me salve, não me socorra, não me atire uma bóia. De preferência só atire chocolate, precisarei de glicose de vez em quando. Não desligue o som, me deixe ficar ouvindo mil vezes If you leave me now. E me deixe lá, submersa no universo das bolhas.
Bem feito, quem mandou acreditar nas pessoas? Já falei, elas nos desapontam todos os dias. Sem dó, nem piedade. Talvez com a dó, aquela que dá quando sentimos remorso, mas sem piedade. Garanto.
Juramos que fulana é amiga. Minha melhor amiga, companheira de todas as horas. É pra rir de chorar e pra chorar de rir. Topa qualquer parada e dá a mão quando a coisa aperta. Será mesmo? Pois bem, a coisa apertou e não vejo a mão da fulana! Infelizmente alguns amigos só são amigos quando não têm mais nada de interessante pra fazer. Eu explico. Hoje minha agenda está vazia, posso ser tua amiga. Senta aqui, toma um café e me conta o que está te afligindo. Amanhã? Ih, vou fazer a unha! Amanhã não dá pra brincar de amizade, estou ocupadíssima. Hum, então sábado? Sem problemas, mesmo porque meu namorado vai viajar, podemos sair e conversar. Mas domingo ele volta, me procura só na segunda. Super amiga, hein? Sinto cheiro de desapontamento.
Bem feito, quem mandou se envolver? Eu disse, o melhor é ter controle no que se refere aos batimentos cardíacos. Domínio da série tum-tum. A partir do milésimo de segundo que bateu o envolvimento...agüenta as conseqüências. Toma, filha da puta! Eu me envolvi, desculpa, mas me envolvi. Cometi um pecado? Parece que sim, penitência pra mim. Até quando? A paixão nos faz entrar numa completa negação. Ficamos meio cegos e damos uma série de descontos. O desconto vai indo, indo...até que a gente acaba devendo. Pra quem? Nós mesmos. Eu te quero e você sabe. Eu me envolvi e você sabe. Eu definitivamente me apaixonei. E você também sabe. É tão difícil assim perceber? Dá vontade de pegar um machado e abrir a sua cabeça. Quem sabe assim entra alguma coisa? Acredite em mim. E não aja dessa forma. Você me magoa. E eu sinto cheiro de desapontamento.
Em ambos os casos, amizade e amor, nós nos desapontamos. Gestos, falta de gestos. Palavras ditas e as que ficaram na garganta, por dizer. Ou, ainda, aquelas que esperamos ouvir, mas que não vieram. Aquelas atitudes que esperamos e que não chegam. Estamos surdos? Falta cotonete? Não. A gente fecha os olhos para aquela super amiga que nos falta em circunstâncias essenciais. A gente fecha os olhos para aquele amor meio bandido que teima em não acreditar nas nossas ações e no nosso sentimento. Aquele amor que adora brincar de esconde-esconde.
Que mundo é esse? Que pessoas são essas? É minha amiga? Pois seja. Seja hoje, ontem, amanhã. Não importa há quanto tempo a amizade existe, o que tem de valor são as pequenas ações. É minha amiga? Seja em dia de sol, chuva, dramas diários, crise de tpm, ataque de abstinência do chocolate, momentos de fúria, siricuticos de alegria. Nos risos e nas dores. Está apaixonado mesmo? Acredite em mim. Bota fé em cada coisa que te digo, porque não abro a boca pra iludir ninguém ou inventar historinhas pra boi dormir. Isso não é a minha praia, nem faz o meu tipo. Não é meu esporte, porque não brinco dessa maneira. Me quer mesmo? Confia. E me deixa entrar no teu mundo e dar um pontapé nessa barreira imaginária que você insiste em manter.
Podemos até fechar os olhos aqui e ali. Mas não devemos, em hipótese alguma, fechar os olhos pra nós mesmos. O espelho não mente. A gente se olha e vê o que? Uma pessoa desapontada. Com as ilusões de amizade e amor dentro do bolso da calça jeans.
Tá errado. Somos assim mesmo. Vivemos. Sentimos. Nos damos. E não é pecado. Muito menos feio ou errado. A gente se estrepa, fica esculhambada ali na segunda esquina, mas dá pra reunir todos os estilhaços e fazer tudo de novo. Ou então assumir a postura vou-viver-sozinha-e-ponto. Não sou adepta dessa filosofia. Ninguém vive totalmente sozinho, não tem como ser feliz assim. É preciso um pouco de cautela. Discernimento. Pé atrás. Não se entregar direto, não confiar demais. Não inventar moda.
Ah, deleta. Esquece. Não tenho pé atrás. Sou assim, transparente. Estrapolo. Me ferro mesmo. Me entrego. Mas só sei ser dessa forma. Não conheço outra diferente. Falar é fácil demais. Fazer é que é a grande arte. Acho que não vou aprender nunca. Me desaponto. Me recomponho. E sigo firme, pois invento a MINHA moda. Mas, por enquanto, preciso de tempo. As bolhas me aguardam.
Eu penso. Mas, antes de pensar, eu sinto. O fato é esse. E fim de papo!