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Ele se sente um tanto derrotado. Do outro lado. Caindo. Rodopiando sem sair do lugar. Caminhando, correndo, cansando. E não chegando a nenhum lugar. Ele tenta abrir a boca pra contar o que está havendo, mas não consegue. Algo o impede. Até mesmo a preguiça. Dá trabalho demais dizer o que o faz andar em círculos e continuar parado. E ele quer ação. Quer sair do lugar, precisa disso. Vocês não notam? Está ali, na cara dele. Mas será que alguém olha mesmo pra cara dele? Além do bom dia, boa tarde, boa noite, obrigado, com licença, por favor. Alguém se importa? Alguém pensa? Ele vê o passado passar, isso mesmo, passar, abanar, mostrar a língua e dizer tchau. De alguma forma ele não quer jogar fora os velhos discos, reformar seu espaço interno e abrir as janelas. Ele gosta do velho, do antigo, do cheio de pó. Ele tosse, mas não se importa. Passa o dedo pelos móveis e se suja. Se arrasta pelo chão e se esfola. E pensa nos erros. Pega o verso da folha e escreve sobre sonhos. Quais são os sonhos dele? Ele não sabe. Seu maior sonho é se livrar do vazio, que mais parece um encosto bem cheio do que um vazio propriamente dito. Ele nem sabe se ainda sonha. Só sabe usar umas frases feitas, citar alguns poetas famosos e fazer palavras-cruzadas (e a barba). Ele nem sabe se compensa viver sozinho. Ele é antipático, não suporta sua própria companhia. Não tem paciência para conversar entre ele e ele. Papo a dois. Papo a dois que, na realidade, é um papo entre o eu-sonhador e o eu-pensante. Talvez ele tenha cansado de sonhar. De cair no chão e não conseguir ter força nas pernas pra levantar e seguir andando pela rua. Talvez ele tenha cansado até mesmo de pensar. Pensamentos soltos. Meio perdidos. E a derrota segue dentro dele. Junto com ela, aquela foto sua. De uma manhã qualquer, num lugar qualquer, numa data qualquer. O problema é que ele sabe: você não é uma qualquer.
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