Entre um gole e outro ela se perdeu. Entre copos vazios ela vislumbrou algo indecifrável até então. Decidiu que iria resolver a vida (e todos os problemas do Brasil) naquela noite. Ligou pro cara errado. Fez tudo errado. Deu mais uns goles e ligou pra se desculpar do que disse. Não adiantou, já estava feito. Bebeu mais, pra tentar achar uma solução, pra tentar ver algo certo no tudo errado que fez. Decidiu, então, que não adiantava desesperar. E encheu os copos vazios. Junto com eles, se encheu de algo chamado esperança. Então ela dormiu. Manhã seguinte. Mundo que gira. Pagodeira na cabeça. Dor na alma. Enjôo. Sensação de fiz-merda-muita-merda-que-bosta! Ressaca corporal. Ressaca mental. Ressaca moral. Banho quente. Café forte. Aspirina. Neosaldina. Todas as “inas” do planeta. Água. Cama. Dor de cabeça que não passa. Dor no peito que não vai embora. Arrependimento que belisca a nuca. Porque ela bebeu? Porque ela não se controla? Porque ela liga pro cara errado (aquele cara! aquele jumento que não presta. que faz sofrer. que ela jurou nunca mais olhar na cara. que pertence a lista dos excluídos. aquele que está no meio dos eu-juro-que-não-quero-mais-na-minha-vida)? Ela não sabe. E a aspirina não faz efeito. Nem a neosaldina. O melhor é tentar dormir. Zzzzzzzzzzz. Ela consegue adormecer por alguns instantes e desperta. A dor ainda cutuca a cabeça. Mas ela levanta. Promete não beber nunca mais. Promete não ligar. Promete jogar o telefone dentro da piscina se a vontade apertar na campanhia. E percebe que nem todos os dias são felizes, ainda bem.
Sobre o blog
Clarissa Corrêa
Clarissa Corrêa é escritora e redatora publicitária.
É autora dos livros Um pouco do resto, O amor é poá, Para todos os amores errados e Um pouco além do resto.
Já foi colunista do site da Revista Tpm, do Vila Mulher e do Donna.
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