Sonhos. Talvez fosse melhor nem tê-los. No final, o que existe é somente aquilo que sobra após o sol nascer. E o que te resta é somente o que você pode suportar. E o que você quer ainda aí, pendurado. O que você sente sempre aí, bem acomodado em todas as frestas. Não quero muito, só quero tudo. Não quero nada, só quero mais. Existe mesmo um real sentido em saber a verdade? Em buscar a resposta? Talvez não. O que fazemos com as nossas vidas? Poderíamos juntá-las, amarrá-las e jogá-las no mar. Iríamos viver entre as ondas, no vem e vai, vai e vem. E o cansaço te dá uma chave de braço, você sente que está prestes a se entregar. Protela. Adia. Deixa pra lá. Finge que não vê. Dói menos. Você não quer encarar e descobrir. E você sente a fraqueza invadindo cada centímetro do seu corpo, cada espaço claro e escuro dentro de você. Você resolve perguntar. Melhor saber do que ficar tentando andar de bicicleta contra o vento em dia nublado. Provas. Perguntas. Respostas. Resposta errada. Não era bem aquilo que você queria ouvir. Mas está feito. Você tem a resposta na mão e a certeza na bolsa. Aquela maldita certeza de que é-essa-a-pessoa-que-eu-sempre-quis. E essa pessoa que você sempre quis gosta de você. Mas não o bastante. Não o suficiente. Não a ponto de tentar corresponder ao que você espera, apenas pra deixá-lo sorrindo. Você não quer muito, só quer tudo. Não quer nada, só quer mais.
Sobre o blog
Clarissa Corrêa
Clarissa Corrêa é escritora e redatora publicitária.
É autora dos livros Um pouco do resto, O amor é poá, Para todos os amores errados e Um pouco além do resto.
Já foi colunista do site da Revista Tpm, do Vila Mulher e do Donna.
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