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"Não sei se será possível a gente escolher as próprias verdades, elas mudam tanto. Não só por isso, nossas verdades quase nunca são iguais às dos outros, e é isso que gera o que chamamos de solidão, desencontro, incomunicabilidade.Talvez a maneira como me debato seja natural, e até positiva. É possível que eu parta daí para um conhecimento maior de mim mesmo. Então estarei livre. Acho que meu mal sou eu mesmo, esses círculos concêntricos envolvendo o centro do que devo ser. Mas só poderei me aproximar dos outros depois de começar a desvendar a mim mesmo. Antes de estender os braços, preciso saber o que há dentro desses braços, porque não quero dar somente o vazio. Também não quero me buscar nos outros, me amoldar ao que eles pensam, e no fim não saber distinguir o pensar deles do meu."

(Caio Fernando Abreu)

Felizes de nós, que podemos mudar de opinião, roupa, vida, cor do cabelo. A mesmice incomoda um pouco. Na verdade só não dá pra mudar de passado, mas eu descobri: o que fica grudado no corpo são as situações que lembramos. A imagem que temos do que passou talvez seja mais importante do que o próprio passado. Alguém disse que imagem não é nada, que tolice. As imagens é que trazem as nossas verdades. E as nossas verdades nem sempre são compatíveis com as do ilustre vizinho. Ainda assim podemos mudar de opinião. Melhor mudar o tempo todo do que não ter opinião nenhuma. O vazio incomoda, arrepia. Prefiro ficar cheia de tudo, se é que você me entende. Vazio é oco, podridão. Você fala e a resposta é o eco, o gelo, o nada. Chega a dar um medo que sobe desde o dedinho do pé e toma conta do corpo inteiro, sem data prevista para o até logo, sem hora certa para o adeus. A pior coisa do mundo não é o abandono ou até mesmo o vazio, sentir-se perdido; o pior que já vi é alguém se perder de si mesmo. O perder-se de si é desesperador. Não há nada de melancólico nisso, é puro desespero. Se você não sabe quem é não vai saber fazer as escolhas certas, não vai saber embarcar nos labirintos. Se atrapalhar no caminho, deixar cair o mapa, perder o norte, o tino, a voz, a cor, o sono, tudo isso é normal. Perder uma parte de nós também é. O que não compreendo é como as pessoas podem deixar a alma ir embora. Você olha para o espelho e não vê nada; nada além de recordações e vida interrompida por ninguém sabe ao certo o quê.

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