Coisas da gaveta III

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(Porque de vez em quando a gaveta emperra, tem que colocar tudo para fora e reorganizar a papelada)
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Sei que você já deve estar cansado dos meus títulos gavetais. Não quero que você termine engavetado, longe de mim. Sabe o que é? Vou ser honesta, tá legal? Pode chamar do que quiser: crise dos pré-trintinha, crise de final de ano, crise de conclusão de curso (aleluia, irmão!), crise de loirice, crise de bichice, crise existencial, crise de loirônios. Não sei qual crise é, mas sei que é. E ela está me incomodando cada dia mais. E mais e mais.
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Tenho pensado muito. Grande novidade, você está fazendo aquela cara que eu sei. Eu penso sim, penso demais. Tem gente que pensa em voz alta, eu penso escrevendo. Quando a voz me falta surge um papel imaginário na minha frente. Lá eu coloco tudo o que não soube dizer, porque eu não sei de vez em quando dizer as coisas certas. Pra falar bem a verdade eu nem sempre sei qual caminho seguir, então me embanano e falo coisas erradas (além de falar eu faço). Todo mundo erra, eu sei, é que me cobro demais por coisas que são imaginárias. Completa maluca?, você se pergunta. Não sei, lhe respondo. Sei que sou assim e de vez em quando queria ser outra pessoa. Tenho pensado em coisas que sempre deixei de lado, porque a gente sempre afasta aquele pensamento chato. Sabe aquele cara mala que fica te enchendo o saco em uma festa? Ele, além de mala, é feio e tem bafo de cerveja. E bafo de cerveja é horrível quando você não está tomando cerveja. Pois bem, o cara mala fica te falando gracinha, dando letrinha e enchendo o seu saquinho. Você tem vontade de enfiar a mão bem feita na cara dele. O pensamento chato seria o cara inconveniente na balada (por que eu usei essa palavra, deus meu?, "balada" é horrível).
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Já sou bem grandinha e a minha vida era pra me acompanhar, mas ela insiste em ver desenho. É isso aí: a minha vida adora Tom & Jerry e piscina de bolinhas. Dá pra ser tudo ao mesmo tempo? Claro que sim, tem gente que tem múltiplas personalidades. Tem gente que é bipolar. Tem gente que é travesti. São formas de ser tudo ao mesmo tempo. Até que provem o contrário eu não me enquadro em nenhuma das alternativas explicitadas, portanto, o que está acontecendo? Sempre fui radical, muito radical. Sou da teoria do é ou não, vai ou não vai, seja ou não seja, faça ou não faça, diga ou não diga. Não gosto de quem usa camiseta de bloco adoro-ficar-em-cima-do-muro. Sempre gostei de quem tem opinião formada, personalidade forte, quem sabe o que quer. E eu sei o que quero? Sei. E basta? Não. Por quê? Ah, agora vem a parte boa: porque não basta querer. É que nem amar, amar não basta. Não me olhe com cara de surpresa, amar não basta, eu digo e repito quantas vezes for necessário. Existem muitas coisas que ficam atrás do amor, só ele não sustenta nada. Pra amar, por exemplo, tem que ter paciência, fazer certos sacrifícios, ceder em alguns aspectos. Pra querer, por exemplo, não basta só fazer pensamento positivo, dar três pulinhos, cruzar os dedos e sorrir para a vida.
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Hoje o que está dentro da minha gaveta é isso: não posso ficar a vida inteira sorrindo pra vida. Ela pode ser antipática ou estar em um dia ruim e não me dar a menor bola. Você concorda? Vamos um pouco além: extremos. Ou é daquele jeito ou é do outro jeito. Sem meio termo, sem meia frase, sem meio beijo. Ou beija ou não beija, essa coisa de metade não faz a minha cabeça. E tem como ser meio mulher e conservar o lado meio menina? Não falo de moda ou dos avanços da medicina, eu disse que nós iríamos um pouco além: tem como meter o pé no mundo adulto sem perder aquele ar infantilmente saudável? Olha, eu não sei. Não que eu não saiba a resposta, ela eu sei bem. É que não sei como fazer isso. Pra mim é muito difícil, pois as minhas ações sempre foram é-isso-ou-aquilo-sem-frescuradas-de-não-sei. Não gosto de indecisão. Alguém falou que os librianos são indecisos, não concordo. Os outros não sei, mas eu sei as coisas que eu quero. Aliás, não sei se sei. Tá legal, eu sei. É que não sei a forma de fazer isso. Mas eu vou descobrir a resposta, volto e conto pra você. Neste momento a minha gaveta emperrou, tem papel demais. Preciso olhar certas coisas do passado pra poder me livrar do lixo e conseguir, de vez, olhar pra frente. Não só olhar, mas caminhar.
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