As cartas não mentem jamais

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Anteontem pela manhã o ônibus parou numa sinaleira e vi um folheto colado em um poste: "qualquer problema ou dificuldade tenha fé e confiança em mim". Era de uma cartomante. E fiquei pensando quantas vezes na vida perdi a fé e a confiança em mim mesma. E quantas vezes tive a decência de recuperar a bendita fé. Porque a gente tem que acreditar - sempre - em alguma coisa.


Existem os períodos de baixa. A gente se sente pequena, formiga, Smurf, anã, parte do elenco do "Querida, encolhi as crianças" e, lógico, somos os encolhidos. A vontade some, o querer vai embora, fica um sem querer dominando. Não adianta telefonema, abraço que esquenta, filme bom, música preferida, chocolate amigo, amigo gente, amigo cachorro, amigo imaginário: o mundo parece um lugar estranho demais pra viver. E as pessoas parecem estranhas demais num mundo atrolhado de estranhezas. As teorias caem por terra, você apaga tudo, retira tudo, recolhe e pensa que talvez o mundo nem seja assim tão estranho, talvez o que foda mesmo o mundo sejam as pessoas. Sem caráter, sem educação, sem amor, sem humildade, sem poesia, sem nada. Com arrogância, petulância, maldade, sarcasmo, crueldade.


Já tive períodos de baixa, de alta, sou uma Bolsa de Valores em forma de gente. Só que no meu caso sou eu que compro e vendo e aplico e fico cuidando os números de mim mesma. Minhas ações disparam e despencam. Um dia a gente aprende que somos o que pensamos ser, sem filosofia barata botequeira (eta, palavra que lembra outra palavra, não pense bobagens). A gente faz o que quer com a vida da gente. E tudo começa pelo que a gente pensa quando olha pra dentro. Na verdade tudo começa antes: pra olhar pra dentro precisa ter um pingo de coragem, tem muita gente que prefere olhar pra fora e pra outras vidas do que olhar pra si. É tão bonito olhar pra si mesmo, abraçar todas as loucuras e purezas e não ter vergonha de dizer o que pensa. Não ter vergonha de calar quando preciso. Ficar quieto não é ser fraco, calar de vez é quando é ser sensato.


Vejo muita gente desiludida com os próprios sonhos e anseios. Gente que já desistiu, que juntou as tralhas e trocou de lugar, cansou, cansou, porque cansa, um dia cansa. Mas, estranhamente, não me canso nem quando me canso temporariamente. Sei lá, algo aqui dentro tem uma fé enorme em algo sem nome, com nome e sobrenome, uma fé que não dorme, que às vezes entra em coma, que sai de férias e volta correndo cheia de saudade, uma fé que resolve virar faquir e ao mesmo tempo é uma fé gorda, grande, inteira, completamente cheia de si. Essa fé é que me lembra todos os dias que em caso de problemas ou dificuldades, mesmo que eu esqueça, essa fé lembra que é comigo mesma que eu posso contar. Até o fim.

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