O que a gente não sabe guardar

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Gosto de gente de verdade. Se você não consegue ser, por favor, não perca o seu tempo comigo. Sempre fui de me dar assim, refazendo verbos, iniciando frases, completando palavras. E quando alguma coisa falta, tudo bem, existe abraço que fala, olhar que entende, sorriso que é cúmplice. A gente precisa perder a mania de complicar as coisas. Sei que escrever é bonito e viver às vezes dá um trabalhão. Me complico também, não pense que não. Mas sou toda de verdade, entende? Por mais que saia da boca alguma coisa com um quê de inverdade, os olhos nunca traem o que faz meu coração bater ou ficar mudo. E ele perde a voz muitas vezes. Ou fica rouco. Louco. Coração, você sabe, é um pouco temperamental e difícil de conviver, ainda mais o meu.


O que eu peço é que você seja sempre de verdade também. Que me queira assim, imperfeita e cheia de confusões. Que saiba os momentos em que eu preciso de uma mão passando entre os fios de cabelo. Que perceba que às vezes tudo o que eu preciso é do silêncio e do barulho da nossa respiração. Que veja que eu me esforço de um jeito nem sempre certo. Que veja lá na frente uma estrada, inteiramente nossa, cheia de opções e curvas. E que aceite que buracos sempre terão. O que eu peço é que você me veja de verdade. Que não queira a melhor mulher do mundo. Que você olhe dentro de mim e veja o que eu sou, com meus momentos de sabedoria, esperteza, alienação e ingenuidade, porque eu nunca vou saber tudo. E entenda que de vez em quando faço questão de não saber nada. Que você note que eu faço o melhor de mim e vezenquando desconheço o que eu realmente posso ser. Peço que você tenha paciência grátis e um colo que não faça feriadão. Que me ensine mais, a cada dia, o meu. E o seu.


Ouvi falar que algumas coisas, quando são muito ditas, acabam perdendo o sentido que deveriam ter. É aquela velha história do tempo. Vamos dar um tempo. Se o casal resolve dar um tempo sempre o bendito tempo acaba perdendo o seu valor. Eu quero que o tempo nos dê todo o tempo do mundo, só assim poderemos nos descobrir mais e mais vezes. Porque tudo é uma constante descoberta, por mais que já pareça o suficiente. Tem a outra velha história do terminar. Uma briga e ah, vamos terminar. Outra briga e está tudo terminado. O terminar perde o sentido e uma briga tola se transforma em fim. Ainda bem que fim nunca tivemos e que o terminar não existe no nosso vocabulário. Nada disso se aplica no nosso caso, a não ser o eu te amo. Dizem que quando o eu te amo é muito dito ele não vira mais um eu te amo, passa a ser um bom dia ou um oi, tudo bem? Isso me preocupou, logo que eu soube, porque a gente diz muito e sempre. Eu te amo, eu te amo, eu te amo. É que amores grandes assim não cabem dentro do peito, precisam de espaço. Saem pela boca, dedos, olhos. E quer saber? Quem diz isso não deve amar assim não. Porque quando a gente ama não se guarda.
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