Me dê motivo

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A gente sempre precisa de um motivo, seja para culpar alguém ou para as nossas próprias desculpas urgentes. Amanhã eu dou aquele telefonema que há horas estou adiando, segunda vou ver os horários na academia, no próximo mês visito um parente que mora distante, no final de semana faço as pazes com minha mãe, na próxima vida aprendo a ser mais generosa, quando eu juntar dinheiro visito Paris, quando eu ganhar na Megasenaacumulada eu dou um dinheirinho para o asilo e o orfanato, quando eu tiver tempo faço um trabalho voluntário, quando eu ficar grávida paro de fumar, quando eu crescer não peço mais colo para minha avó, quem sabe outro dia eu lavo a louça? Ei, a vida está acontecendo aqui e agora e isso não é o programa que dava na televisão há anos atrás, com Gil Gomes e suas tragédias cotidianas (por onde ele anda, está no Uruguai com o Belchior?).


Minha vida não é quando, mas como. Não dá para adiar, é preciso viver. E o viver, leia bem, é de coração lotado, abarrotado, explodindo de sentimento, de gente, de tudo. Porque não adianta viver fajutamente, paraguaiamente, fingidamente. Tem que viver completo, se dando, doando, mesmo que ninguém mais acredite em você, mesmo que te achem louca por pensar que existe gente com coração puro e intenção franca no mundo. Mesmo que nenhuma pessoinha bote fé, por favor, bote a fé você. Sei que é estranho, mas se eu gosto de você eu gosto de você, não importa se te conheço há anos ou minutos. E se eu gosto de você, seja decente comigo, tenha honestidade na cara. E se você não gostar de mim, não venha pra cá fingir que tudo está bem. Mas se você for com a minha cara, me trate bem, porque eu sou sensível e trato todo mundo direito. Só não me peça pra puxar o saco, não tenho estômago pra isso. Entenda minha mania (que quem não me conhece direito pensa que é delírio): pessoas que eu gosto coloco num canto lá dentro, com direito a cobertor e chocolate quente. No meu coração tem muita gente, posso não falar com os habitantes todos os dias, posso ficar meses sem aparecer, mas eles sempre estão lá. Ei, galerinha, se vocês sentirem fome é só avisar que chamo uma pizza!


Não vou negar que uso muito o quando-se-quando-se, é um vício. Pouco a pouco, tento me livrar. Existe um velho ditado que diz "Não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje". É antigo, mas certas coisas nunca saem de moda. Se você ficar com vergonha de usar, coloca um acessório bacana, pega uma bolsa bonita, um óculos enorme e vai sacudir essa saia na rua. Por favor, viva a sua vida intensa e verdadeiramente hoje, agora.


E já que tudo precisa de um motivo, o meu é esse: adeus, autodesculpas, não quero mais saber de vocês!
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