Sobre a indiferença

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Imagem: Reprodução.



Me desculpe. Me desculpe. Me desculpe. Me desculpe. Começo assim, desse jeito, cheia das desculpas. Não, não fiz nada errado. Mas me desculpe mesmo assim. Antes de tudo eu confesso: tenho um profundo pacto com as palavras. É uma coisa tão forte e intensa que beira a psicose palavral. Escuta, se a gente combinou algo tá combinado. Se um imprevisto acontecer, ok, eu entendo, imprevistos acontecem. É claro que não vou ficar indignada com você e sair porta afora se uma coisa muito grave aconteceu. Mas pelo amor de Deus, por favor, eu peço para todos os santos: não descombine uma coisa (que você mesmo combinou) aos 43 do segundo tempo. Daí me sinto besta, daí me sinto palhaça, daí enfio as palavras no saco e vou embora.

Fiquei triste. Nem estava contando com você, mas você resolveu contar comigo. Tudo bem, vamos contar, afinal, sou bem ruim em matemática, sempre preciso que você refaça minhas contas. Por que eu me sinto tão idiota às vezes? Por que às vezes eu me sinto uma completa idiota? A impressão que dá é que só eu tento fazer a coisa certa. O problema é que não dá resultado algum. Vou parar de tentar e ver o que acontece. Sério, vou parar. Vou parar de me preocupar, de tentar deixar tudo bonitinho pra você, de muitas vezes deixar de lado o que eu quero pra que você esteja bem. Vou parar agora mesmo. Fico me perguntando: você abre mão de alguma coisa sua pensando em mim? Não, você sempre disse que vem antes, se ama tanto que vem antes, é tanto eu, eu, eu, eu que nem para e pensa se alguma atitude vai me deixar assim ou assado. Desculpe, estou com raiva agora. Raiva de você não prestar atenção, de não entender as coisas. E elas são tão simples, meu Deus, tão simples.

Toda ação tem uma reação. A gente combinou e você descombinou na hora "h". Eu tinha que achar legal e sorrir? Depois fiquei pensando: aquilo foi apenas uma desculpa, de qualquer forma você nem iria junto. Claro que não. E o pior de tudo é que ia me avisar em cima da hora. E eu fazendo coisas para você. Ainda tinha escrito uma cartinha pra colocar no travesseiro, que boba. Coloquei a carta no lixo. E saí engolindo o choro no elevador. Não vou chorar, não vou chorar, pensei. Mas chorei. Parece que a cena se repetiu: duas vezes fui embora de táxi chorando. Dessa vez eu fui chorando igual, mas era um choro diferente.

Me desculpe, mas não consigo agir como se nada tivesse acontecido se alguma coisa de fato aconteceu. Minha mágoa foi porque eu tinha me preocupado tanto com você e você não teve a menor consideração. Mas deixa. Eu preciso aprender. Olha, tem muita coisa no mundo que eu não entendo, mas quer saber o que realmente não entra na minha cabeça? Como pode uma pessoa saber que te deixou triste e simplesmente não fazer nada quanto a isso? Se eu sei que deixei alguém chateado por uma atitude minha é evidente que vou procurar a pessoa, ligar, fazer alguma coisa. Jamais vou ficar quieta, na minha, sem saber o que a pessoa tá pensando ou sentindo. Se tá chorando ou com raiva. Além disso, tem o essencial: vou querer consertar. Ainda mais se a mancada foi minha. Agora me pergunto: como pode alguém cruzar os braços e deixar rolar? O que adianta dizer que eu gosto muito de você, que você é mega importante pra mim se eu te deixo triste e não faço nada pra mudar isso?

Pior ainda é dizer nem-sei-direito-porque-você-estava-triste. Poxa, não sabe? Me pergunta! Mas não, você não perguntou. Ficou sem voz. Depois, liguei pra você e você agiu normalmente, como se estivesse tudo bem. Mais tarde, quando toquei no assunto, você veio com essa de que também tinha se chateado e nem sabia ao certo o porquê da minha chateação. Ei, em que mundo você vive? Se eu sei que você está triste vou querer saber o motivo, te ajudar, te deixar feliz. Não vou conseguir simplesmente passar um dia inteiro sem saber o que aconteceu. Por mais que eu me ame, me adore e ame minha própria companhia eu me importo demais com você, não consigo te ver mal com alguma coisa. Mas parece que essa sou eu. E parece que eu não sei nada ainda.

Depois você diz não-fica-assim. Tudo bem, se isso faz com que você se sinta melhor, não-fico-assim. Então-tá-vou-lá-ver-o-fulano-que-vai-viajar-pra-não-sei-onde-e-depois-não-vou-conseguir-ver-ele-coisa-e-tal. Tá bom, te diverte bastante. Que coisa bem louca: você aí rindo e eu aqui chorando.

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